Milho transgênico não afeta comunidade de insetos

Um estudo recente concluiu que uma variedade de milho transgênico, o MON810, não interfere na comunidade de insetos dessa lavoura. Os resultados da pesquisa foram apresentados na tese de doutorado da engenheira agrônoma Marina Regina Frizzas, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

Larva e estágio adulto da Spodoptera frugiperda, principal praga dos milharais

O MON810 sintetiza a proteína Cry1Ab, da bactéria Bacillus thuringiensis . Essa proteína controla as lagartas do cartucho do milho ( Spodoptera frugiperda ), a principal praga dos milharais. Essa variedade transgênica de milho, produzida pela Monsanto do Brasil, está em fase de avaliação e não está liberada para cultivo comercial.

A pesquisa, realizada nas regiões de Barretos (SP) e Ponta Grossa (PR) entre 1999 e 2001 ao longo de seis safras, comparou a fauna de insetos no milho transgênico e no convencional, com e sem aplicação de inseticida. Cinco tipos de armadilhas foram usados para garantir a coleta de quase todas as espécies de insetos presentes no ambiente: alçapão, bandeja d’água, cartão adesivo, rede de varredura e armadilha luminosa. Essas armadilhas permitiram capturar insetos de diferentes hábitos: os que vivem no solo, na parte inferior das plantas, os que se alimentam do milho, os insetos diurnos voadores e os de hábitos noturnos.

Ao todo foram coletados 957.081 insetos de 409 espécies diferentes. Análises faunísticas e estatísticas dos dados obtidos permitiram verificar se o número, a proporção e a diversidade de insetos variavam entre o milho transgênico e o convencional. “Essas análises não mostraram diferença significativa na comunidade geral de insetos nas safras e locais avaliados”, diz Frizzas.

A exceção óbvia são as lagartas do cartucho do milho, menos numerosas nas lavouras de MON810. Não foi observado efeito do milho transgênico sobre a proporção relativa entre os diferentes grupos funcionais de insetos avaliados: organismos benéficos (predadores, parasitóides e polinizadores), pragas não-alvo (sugadores e mastigadores) e decompositores.

 

Milharal danificado pela lagarta do cartucho do milho (esq.) e livre da praga (dir.)

Embora o objetivo da pesquisa não fosse comparar a produtividade das variedades de milho, observou-se uma diferença importante no número de plantas danificadas pela lagarta do cartucho do milho. Nas lavouras sem inseticida, até 80% das plantas foram danificadas. “Já no milho transgênico essa percentagem foi de no máximo 20%”, diz Frizzas.

 

Esse é um dos primeiros trabalhos sobre plantas transgênicas realizados no Brasil. Recentemente, seu cultivo foi proibido no país, mesmo para pesquisa. “É um impasse: alegam que a proibição se deve à pouca informação que há sobre o impacto dos transgênicos no meio ambiente, mas não se pode fazer pesquisas sobre o tema”, reclama Frizzas. “Deveria ser dado mais valor às pesquisas realizadas, ou esse impasse vai continuar.”

Captura de insetos

O alçapão, armadilha que fica enterrada, capturaos insetos que vivem no solo. A bandeja d’água coleta insetos que vivemna parte inferior da planta. Além disso, por ser amarela, também pegaos insetos que são atraídos por essa cor. O cartão adesivo ficasuspenso e, por ter cola dos dois lados, detém os insetos diurnosvoadores. A rede de varredura coleta insetos que se alimentam do milho.Por fim, a armadilha luminosa, composta de luz negra acoplada a umrecipiente com água, atrai e intercepta insetos de hábitos noturnos.

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
09/05/03