Nova espécie de peixe no Amapá

        


Fêmea (no alto) e macho (embaixo) do novo peixe descoberto no Amapá, cujo comprimento chega a apenas 40,9 mm. Seu nome, Phenacogaster apletostigma , faz referência à mancha presente na parte lateral de seu corpo. (Fotos cedidas por Zilda Lucena).

Uma nova espécie de peixe nativa do Brasil foi descoberta no Amapá. Descrita por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa) na edição de março da Revista Brasileira de Zoologia , a espécie foi batizada de Phenacogaster apletostigma e é endêmica da região. As expedições que resultaram na descoberta do novo peixe também registraram espécies raras e ameaçadas de extinção, além de animais que nunca haviam sido encontrados naquele território.

O nome dado ao peixe – apletostigma – é fruto da fusão das palavras gregas apletos (imensa) e stigma (marca), em uma referência à mancha presente na parte lateral de seu corpo. O animal, no entanto, é bem pequeno: pode medir até 40,9 mm de comprimento. Ele foi encontrado nas águas do sistema do rio Araguari, que localiza-se na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do rio Iratapuru e na Floresta Nacional do Amapá. Sua descrição ficou a cargo das biólogas Zilda Margarete Seixas de Lucena, do Laboratório de Ictiologia da PUC-RS, e Cecile de Souza Gama, do Iepa.

Antes da descoberta de P. apletostigma , apenas dez espécies do gênero Phenacogaster haviam sido registradas. “Outra espécie de peixe do mesmo gênero, provavelmente inédita, também foi encontrada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do rio Iratapuru, mas será necessário um número maior de exemplares para que se possa descrevê-la”, conta Lucena.

A descrição do novo peixe foi resultado de expedições do Programa de Inventários Biológicos, realizado em unidades de conservação do Amapá para pesquisar a diversidade biológica do estado e permitir assim um melhor controle de seus recursos. O programa, realizado pelo Iepa, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria do Estado e Meio Ambiente do Amapá e a Ong Conservação Internacional, incluiu, ao todo, 11 viagens a campo.

Durante as expedições, os pesquisadores registraram outras espécies de diferentes classes de animais na região. Só na Floresta Nacional do Amapá foram encontradas, em duas viagens a campo, 222 espécies de aves, 116 de peixes, 72 de anfíbios, 63 de répteis e 50 de mamíferos não-voadores.

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, as expedições resultaram ainda no registro de espécies raras e ameaçadas de extinção. Também foram encontrados um exemplar do sapo Atelopus spumarius , até então restrito à região do escudo das Guianas, e do lagarto Amapasaurus tetradactylus , espécie endêmica que não tinha sido avistada novamente desde a sua descrição, em 1970.

As pesquisadoras ressaltam a importância da continuidade das pesquisas na região. “Não há muitas informações sobre a ictiofauna da área”, justifica Lucena. Segundo ela, a descoberta da nova espécie e as outras informações sobre a biodiversidade local irão contribuir para ações que busquem o crescimento da região. “A pesquisa sobre a diversidade biológica é muito importante para o conhecimento de nossos potenciais de conservação e, neste caso, do Corredor de Biodiversidade do Amapá”, destaca.

João Gabriel Rodrigues
Ciência Hoje On-line
11/06/2007