Nova esperança contra o mal de Alzheimer

O mal de Alzheimer é uma síndrome neurodegenerativa caracterizada pela acumulação do peptídeo beta-amilóide no meio extracelular do tecido cerebral. Esse composto é produzido naturalmente pelo organismo, mas começa a formar agregados de moléculas quando sua síntese extrapola os níveis normais. A placa senil (depósitos de beta-amilóide acumulada) é a circunferência rosada no centro da imagem.

Um novo composto pode se tornar mais uma arma para reverter os sintomas do mal de Alzheimer em camundongos. A doença, que leva à redução da memória e à demência nas suas fases iniciais, pode ser causada pelo acúmulo do peptídeo beta-amilóide no cérebro na forma de placas, o que dificulta a comunicação entre os neurônios e afeta as sinapses. O composto testado por pesquisadores americanos foi capaz de reduzir a os níveis desse peptídeo e reverter os déficits cognitivos em camundongos.

O estudo foi realizado pela equipe do neurocientista Steven Jacobsen, do setor de pesquisa da empresa farmacêutica norte-americana Wyeth. Os resultados foram relatados na edição desta semana da revista PNAS.

Os pesquisadores se basearam na hipótese de que de o peptídeo beta-amilóide produzido no cérebro seria o elemento chave responsável pelos efeitos neurotóxicos observados no mal de Alzheimer. Eles desenvolveram um composto capaz de diminuir os níveis desse peptídeo no cérebro de camundongos manipulados geneticamente para mimetizar a doença de Alzheimer no laboratório.

O beta-amilóide, quando produzido no cérebro, pode ser quebrado por proteases (enzimas que degradam proteínas) como a plasmina. O objetivo dos experimentos conduzidos pelo grupo era aumentar a produção da plasmina para, com isso, intensificar a degradação do beta-amilóide e diminuir seus efeitos tóxicos.

Uma molécula essencial nesse processo é a chamada PAI-1, que inibe a produção da plasmina e, por isso, elevaria os níveis de beta-amilóide. A nova droga, batizada de PAZ-417, impede a ação da PAI-1 e restabelece os níveis normais de beta-amilóide. É a primeira vez que pesquisadores conseguiram ativar a degradação dessa enzima por meio de manipulação farmacológica.

Em testes com camundongos, a PAZ-417 reduziu significativamente os níveis de beta-amilóide no plasma sangüíneo e no cérebro dos camundongos. No futuro, ela pode dar origem a uma nova estratégia de tratamento do mal de Alzheimer em humanos.

Hipótese alternativa
A hipótese da qual partem os pesquisadores norte-americanos pressupõe que as placas de beta-amilóide encontradas no cérebro dos pacientes de Alzheimer seriam as responsáveis pela doença. No entanto, esse pressuposto é o objeto de críticas de alguns pesquisadores da doença. “Estudos observaram que não há uma correlação direta e clara entre quantidade de placas e severidade da doença”, explica a bioquímica Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo Foguel, algumas evidências sugerem que os grandes vilões seriam moléculas poliméricas do peptídeo beta-amilóide – conhecidas como oligômeros difusíveis do beta-amilóide – que se correlacionariam de forma mais direta com os sintomas e características da doença.

“Esses oligômeros observados in vitro pela primeira vez foram detectados no cérebro de pacientes com Alzheimer, o que reforça sua importância nos casos da doença”, comenta. “A pesquisa norte-americana busca reduzir a concentração de beta-amilóide, o que levaria à diminuição tanto das placas quanto dos oligômeros, seja quem for o vilão”.

Para a bioquímica, os resultados, obtidos por uma empresa farmacêutica, ainda precisam ser confirmados por outra instituição. “Todos os resultados publicados precisam e devem ser confirmados em outros laboratórios”, lembra ela. “É preciso ter em mente também que mesmo drogas que funcionem muito bem in vitro ou em testes com animais podem não funcionar em testes com humanos. Vão ser necessários ainda mais alguns testes.”

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
20/06/2008