Nova hipótese para colapso dos maias

Não se sabe por que a civilização maia entrou em colapso ao fim do século 9 d.C. No entanto, o evento pode ser em parte atribuído a um longo período de seca associado ao aumento da atividade solar, que ocorre regularmente a cada 206 anos. Isso é o que sugere um estudo de pesquisadores da Universidade da Flórida (EUA) liderados pelo geólogo David Hodell publicado em 18 de maio na revista Science .

Em vermelho, a região ocupada pela civilização maia

Os maias constituíram uma avançada civilização pré-colombiana que ocupou a península de Yucatán, na América Central, onde hoje se localizam o sul do México, a Guatemala e o norte de Belize. Esse povo se desenvolveu no início do século 4 d.C. e conheceu o declínio por volta do ano 900. Em um estudo anterior, a equipe de Hodell havia demonstrado que o colapso da civilização pode ter sido influenciado por um rigoroso período de seca que durou cerca de 150 anos.

Na pesquisa atual, os cientistas constataram a recorrência de secas em ciclos de 208 anos na região habitada pelos maias. Eles analisaram várias camadas de sedimentos encontrados no lago Chichancanab, que apresenta grande concentração de sulfato de cálcio. Durante as secas, a água do lago evaporava mais rápido e a substância se depositava no fundo. Os pesquisadores observaram depósitos do material nas camadas estudadas separados por intervalos de 208 anos, que indicam a regularidade de ocorrência das secas.

A equipe de Hodell associou a constatação à existência de ciclos da intensidade solar que têm quase a mesma periodicidade: 206 anos. A medição de elementos radioativos como o carbono 14 permitiu verificar que as secas que atingiram a península de Yucatán coincidiram com os períodos de maior atividade do Sol. No entanto, durante esses períodos, o aumento da energia solar recebida pela Terra não passou de 0,1%. Para David Hodell, algum mecanismo estava provocando uma alteração climática na Península de Yucatán.

 

O observatório El Caracol é um indício de que os maias tinham rico conhecimento da astronomia

Os antigos maias viviam basicamente da agricultura e dominavam técnicas de irrigação do solo. Por isso, durante a seca, abandonavam as cidades e o ritmo de construções diminuía. A data dos indícios arqueológicos que evidenciam esse abandono coincide com os períodos de aridez verificados pelos cientistas.

 

A cultura maia é riquíssima, mas pouco ainda se sabe a respeito. A maior barreira é o conhecimento da escrita dos indígenas (hieróglifos), que ainda não foi totalmente decifrada. Os antigos maias eram politeístas e associavam deuses a elementos da natureza. Eram capazes de determinar a posição da Lua e de Vênus, além de prever o eclipse solar. Eles desenvolveram também o algarismo zero e criaram um calendário do Sol. Embora dominassem alguns conceitos astronômicos, não há evidências de que soubessem da existência do ciclo bicentenário da atividade solar.

Aline Pereira
Ciência Hoje on-line
07/06/01