Novas armas contra o câncer

 

Novos tratamentos que estão sendo desenvolvidos atualmente em laboratórios brasileiros podem, no futuro, ajudar pacientes na luta contra alguns tipos de câncer. As pesquisas, apresentadas na semana passada na 22ª Reunião da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), em Águas de Lindóia (São Paulo), obtiveram bons resultados com o uso de terapia gênica e vacinas de DNA para combater tumores pulmonares e cervicais.

Vírus portando um gene marcador (que induz a coloração azul) foram usados para infectar as células tumorais H358 de camundongos e comprovar a viabilidade da técnica de terapia gênica. (Crédito: Juliana Gregorio Colozzo).

Na terapia gênica, usam-se cópias sadias de genes para curar pessoas com doenças de origem genética ou para destruir cânceres. “A vantagem de usar essa técnica para tumores é que já se conhece muito sobre eles, o que permite escolher os alvos da terapia”, explica a bióloga molecular Eugenia Costanzi-Strauss, coordenadora do Laboratório de Terapia Gênica da Universidade de São Paulo (USP).

Costanzi-Strauss e seu grupo escolheram como alvos os genes p16 e p53, que são conhecidos como supressores de tumor e cujo mau funcionamento leva à formação de cânceres. Cópias sadias desses genes foram introduzidas – tanto separadamente quanto em conjunto – em um vetor, um adenovírus, que foi usado para infectar in vitro uma linhagem celular de carcinoma de pulmão, a H358.

De todas as variações usadas pelos pesquisadores, a que obteve maior sucesso foi a chamada bicistrônica, que incluía os dois genes no mesmo vetor. “Essa estratégia conseguiu levar 87% das células tumorais à morte”, relata Costanzi-Strauss. O sucesso da técnica levou os pesquisadores a iniciarem testes em camundongos. “Os dados iniciais mostram que o vetor bicistrônico consegue chegar às células do câncer”, conta a bióloga molecular. Mas ela ressalta que ainda deve levar cinco anos para que o primeiro paciente possa ser tratado.

DNA contra HPV
Em outra linha de ação, pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas da USP buscam novas formas de tratamento para o câncer cervical provocado pelo papilomavírus humano (HPV). Esse vírus é responsável por 70% dos casos da doença, causando 270 mil mortes por ano, 80% destas em países em desenvolvimento. “Apesar de haver uma vacina contra o HPV no mercado, ela impede apenas a infecção pelo vírus, não tendo efeito sobre os tumores causados por ele”, observa a bióloga Mariana de Oliveira Diniz, uma das pesquisadoras do laboratório.

Para atacar esse problema, o grupo injetou 100 μg do DNA de três proteínas virais – E5, E6 e E7 – responsáveis pela manutenção do estado maligno do câncer em camundongos com tumor cervical. “O objetivo era fazer com que as células dendríticas, que integram o sistema imune, absorvessem esse DNA, produzissem as proteínas e as expressassem em suas membranas celulares, apresentando-as para o sistema imunológico”, afirma Diniz. Dessa maneira, as defesas do organismo poderiam identificar as células tumorais e destruí-las.

O experimento teve bons resultados e os pesquisadores observaram que, com duas doses da injeção de DNA, 50% dos camundongos ficavam livres de tumores. Com três doses, esse número subia para 70%. “Muito do DNA injetado será perdido; mas mesmo que outras células, como as do músculo, absorvam o DNA e sejam atacadas pelo sistema imune, o dano será mínimo, pois não há como o DNA se replicar e se espalhar para outras células”, conclui Diniz.

Fred Furtado
Especial para Ciência Hoje On-line
28/08/2007

* O repórter viajou para Águas de Lindóia a convite da Fesbe