O Tyrannosaurus rex brasileiro

A ilustração de Maurílio de Oliveira, do Museu Nacional, mostra o P. nevesi em ação: “Como ele tinha ossos longos, deduzimos que era um animal veloz e que caçava em grupos”, afirma ele

Fósseis do maior dinossauro carnívoro brasileiro conhecido até agora foram identificados por pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O ‘Grande Caçador’, como foi apelidado, recebeu o nome científico Pycnonemosaurus nevesi . Em grego, o gênero dessa espécie significa ‘dinossauro de vegetação densa’, uma alusão ao estado de Mato Grosso, onde foram achados seus ossos.

“Trata-se do primeiro representante dos grandes carnívoros no país”, explica o paleontólogo Alexander Kellner, um dos responsáveis pela descrição e classificação do dinossauro. “Ele se localizava no topo da cadeia alimentar e ocuparia um nicho semelhante ao do Tyrannosaurus rex nos continentes do norte.”

Supõe-se que o predador tivesse de 3 a 4 metros de altura, tamanho médio de uma girafa, de 6 a 7 metros de comprimento, como um crocodilo, e peso de cerca de 1,5 a 2 toneladas, semelhante ao de um elefante.

Foram encontrados inteiros dentes, vértebras caudais, costelas anteriores e ossos de membros posteriores do dinossauro. Os pesquisadores estimam que ele tenha vivido entre 80 e 70 milhões de anos atrás, pouco antes de esses répteis serem totalmente extintos no planeta. A conclusão foi obtida a partir de um processo conhecido como datação relativa, em que as camadas do solo onde os ossos foram encontrados são correlacionadas com as de outras áreas.

Os fósseis foram descobertos há cerca de 50 anos pelo paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price em um córrego ao norte de Cuiabá. O material foi coletado e preparado para análise em laboratório, mas permaneceu guardado no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) até 2000, quando Kellner e o paleontólogo Diogenes de Almeida Campos começaram a avaliá-lo.

“Pela importância do material, ele não deveria ter demorado tanto tempo para ser estudado”, lamenta Kellner. “Este é um de vários outros fósseis que dependem de iniciativas e de recursos para serem devidamente pesquisados.” O paleontólogo acrescenta que, no Brasil, apenas dez espécies foram descobertas, muito pouco diante da extensão territorial do país e das cerca de 1500 espécies já identificadas no mundo.

 

Estão expostos no Museu Nacional da UFRJ os fósseis encontrados, uma réplica em escala e ilustrações de como seria o dinossauro

O modelo do dinossauro em escala exposto no Museu Nacional usou por base a espécie argentina Carnotaurus sastrei , representante mais completo do grupo dos Abelisauria, no qual foi classificado o ‘Grande Caçador’. “O vizinho argentino ajudou a completar características, como as cranianas, que ainda nos são desconhecidas”, diz o pesquisador. “Mas podemos constatar no futuro que o que propomos não corresponde à realidade”, ressalta.

 

Os desenhos mostram como os cientistas acreditam que seria esse dinossauro em ação. “A ilustração enfatiza duas hipóteses de seu comportamento, baseadas no que se tem pesquisado no mundo sobre grandes carnívoros”, conta Kellner. “O P. nevesi caçava em bandos e participava de brigas por território com membros da mesma espécie.”

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
29/07/04