Papel inteligente interage com usuário

Protótipo do papel inteligente feito para testar a maleabilidade do produto (fotos: Marcelo Coelho).

Uma folha de papel que interage com o usuário promete modificar significativamente a relação das pessoas com esse que é um dos principais meios de registro de informações da humanidade e que vem perdendo espaço para as mídias digitais. A interação é possível graças à introdução de componentes eletrônicos durante a fabricação do papel, como sensores que detectam o toque humano, sensores de pressão e alto-falantes, que podem ser programados para diversas aplicações.

O papel inteligente, como tem sido chamado, foi desenvolvido no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) pelo pesquisador brasileiro residente nos Estados Unidos Marcelo Coelho, em colaboração com o XS Labs (Canadá). O grande diferencial do produto é a combinação de fibras de celulose com circuitos eletrônicos como os de um computador, capazes de permitir a entrada e a saída de dados, bem como seu processamento. O pesquisador chama essa técnica de computação à base de polpa –  pulp-based computing, em inglês.

“Essa tecnologia terá diversos usos”, prevê Coelho. “Será possível confeccionar livros interativos que contem histórias diferentes a cada vez que o leitor os manusear, caixas de papel que informem o próprio peso, sua procedência e seu destino para as indústrias de transportes e também ingressos eletrônicos que permitam a mudança das informações contidas neles”, exemplifica. Segundo o pesquisador, dependendo das especificações do circuito, sua aplicação poderá ser alterada. Os limites dos circuitos usados são praticamente os mesmos dos convencionais.

Diversos componentes eletrônicos podem ser inseridos no papel, entre eles, sensores que detectam o toque humano, sensores de pressão e alto-falantes. Uma segunda camada de papel recobre depois o circuito.

Confecção do papel
O papel inteligente é fabricado da mesma maneira que o comum, a partir da quebra e mistura em água de fibras orgânicas, que são posteriormente prensadas e secas. “Os circuitos eletrônicos são introduzidos enquanto o papel ainda está molhado. Porém, a água não danifica os circuitos, pois a fonte de eletricidade só é inserida depois. Tanto que, após seco, o papel funciona normalmente”, completa Coelho. Para alimentar o circuito, o pesquisador prevê o uso de baterias finas de lítio ou células solares.

Por ser feito à mão, de maneira inteiramente artesanal, o papel é um pouco áspero e não muito uniforme. Técnicas já usadas industrialmente podem aumentar ainda mais sua uniformidade.

Coelho diz que é difícil prever quando o produto será feito em escala industrial e comercializado, pois as pesquisas ainda estão em andamento. “Na atual etapa, temos buscado viabilizar o uso em larga escala das partes técnicas e aperfeiçoar suas aplicações em áreas de maior interesse”, resume.

Andressa Spata
com reportagem de Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
14/02/2008