Para acabar com a exclusão digital

Ampliar o acesso às novas tecnologias de informação é um ponto estratégico no rompimento das desigualdades econômicas e sociais existentes no Brasil, segundo concluiu uma pesquisa de mestrado realizada na Universidade Federal do Pará. “A democratização da informática precisa transpor os muros das escolas e universidades e atingir o maior número possível de cidadãos”, diz o autor, Rubens da Silva Ferreira, em artigo publicado na revista Ciência da Informação .

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“Cidadãos não matriculados em estabelecimentos de ensino permanecem
excluídos do usufruto das novas tecnologias”, observa Rubens Ferreira
(foto: Centro de Políticas Sociais/FGV)

Ao refletir sobre os desafios do Estado para promover uma sociedade da informação no Brasil, Ferreira aponta o analfabetismo como principal barreira a ser superada: 20 milhões de brasileiros estariam sumariamente excluídos desse processo por não saberem ler e escrever. O alto custo dos equipamentos para a realidade brasileira também é um obstáculo: para os trabalhadores assalariados, o computador e a internet ainda são bens de luxo. O preço médio de um PC corresponde a um terço da renda anual média per capita do país, calculada em R$ 7.470,86 no ano de 2002, pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.

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Mapa da exclusão digital (fonte: Fundação Getúlio Vargas)

O Mapa da exclusão digital , pesquisa elaborada pela Fundação Getúlio Vargas com base em recenseamentos de 2000 e 2001, ajuda a compreender o que Ferreira entende por ’analfabetismo digital’. Divulgado em abril, o estudo mostra que, há dois anos, apenas 12,5% dos brasileiros tinham computador em casa, e 8,3% da população acessava a internet.

De acordo com o mapa, certos fatores estariam diretamente associados ao fato de um indivíduo ter ou não computador. Entre eles estão a raça, os anos de estudo, a renda e a cidade em que mora. Com base nos dados, foi traçado um perfil para o brasileiro informatizado: branco, com mais de 12 anos de estudo, com renda superior à média da população, morador de grandes cidades do Sudeste, e de idade entre 40 e 50 anos.

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Os gráficos acima mostram a proporção da população que tem acesso a computador em função da região de origem e da cor (fonte: Mapa da exclusão digital / FGV)

Para Rubens Ferreira, o acesso à informação tem como propósito desenvolver o potencial criativo e intelectual dos indivíduos, entreter, tornar públicas as proposições políticas e decisões tomadas na esfera do Estado, que têm reflexos diretos sobre a qualidade de vida da população. Mas ele afirma que é um erro pensar que a democratização da informática leva à completa democratização da informação: “a segunda constitui um processo mais amplo que envolve não apenas os conteúdos informacionais disponíveis na internet, mas toda a informação produzida na sociedade”.

Segundo Ferreira, a ampliação do acesso aos meios de informação modernos depende de uma ação conjunta entre Estado e sociedade civil (por meio de organizações não governamentais). Contudo, esse processo deve ser parte de um projeto maior que visa a concretização de uma sociedade da informação, de prioridade do Estado. “Assim como se concebem políticas direcionadas para os setores de habitação, saúde, educação, segurança pública e geração de emprego e renda, cabe aos governos federal, estadual e municipal desenvolver políticas de informação”, conclui.

Maria Ganem
Ciência Hoje On-line
25/07/03