Para combater a depressão, malhe

Os ‘camundongos atletas’ usados no estudo corriam cerca de 10 km por noite em rodas similares à usada pelo roedor retratado acima (foto: Jeff Miller / Universidade de Wisconsin-Madison).

Quem pratica exercícios regularmente sabe que a atividade física proporciona uma sensação de euforia e bem-estar. No entanto, os mecanismos fisiológicos por trás disso ainda eram pouco conhecidos pelos cientistas. Um estudo de pesquisadores da Universidade de Yale ajuda a desvendar por que a prática de exercícios contribui para a saúde mental: eles mostraram que a atividade física induz a produção de uma substância antidepressiva no cérebro de camundongos.

A equipe do psiquiatra Ronald Duman fez o estudo com dois grupos de camundongos: animais sedentários e roedores que corriam cerca de 10 km por noite em rodas instaladas em suas gaiolas. O grupo mapeou a atividade dos genes desses animais em células do hipocampo, região do cérebro envolvida na regulação do humor e na resposta a hormônios do estresse e a substâncias antidepressivas. Os resultados do estudo foram publicados esta semana na revista Nature Medicine.

Os pesquisadores identificaram alterações na expressão de alguns genes no cérebro dos camundongos que se exercitavam regularmente. O grupo concluiu que a atividade física regula a produção de proteínas responsáveis pelo crescimento e pela distribuição das células neurais e impede o desenvolvimento da depressão no organismo dos roedores.

Entre as seqüências que tiveram sua expressão afetada no cérebro dos ‘camundongos atletas’, o gene VGF chamou em especial a atenção dos pesquisadores. Esse gene é o responsável pela produção de um peptídeo que foi apontado pelos autores do estudo como o principal fator responsável pelo efeito antidepressivo da prática de exercícios. O peptídeo age como fator de crescimento e é capaz de impulsionar o metabolismo cerebral.

Após essa constatação, os pesquisadores injetaram um,composto derivado do VGF nos roedores que não se exercitavam e apresentavam sinais de depressão e observaram uma reação expressiva contra esses sintomas. Por fim, ao provocar a mutação do gene VGF, eles também notaram que a ausência do peptídeo tornava os camundongos depressivos.

Novos medicamentos?
Ronald Duman acredita que a descoberta pode direcionar o desenvolvimento de novas estratégias para combater a depressão. “Regular o gene VGF por meio de exercícios físicos e usar o peptídeo para desenvolver novos medicamentos para a depressão pode ser bem mais interessante do que as atuais drogas antidepressivas, uma vez que o VGF já está presente no cérebro”, disse ele à CH On-line.

Duman lembra que a depressão é uma doença que já afeta 16% da população dos Estados Unidos e os medicamentos antidepressivos usados hoje para tratar a doença custam 83 bilhões de dólares por ano para aquele país, além de levar semanas ou meses para aliviar os sintomas dos pacientes.

Muitos passos ainda precisam ser dados, no entanto, até que a descoberta possa se traduzir em um novo tratamento contra a depressão. “Ainda não conhecemos, por exemplo, o verdadeiro efeito antidepressivo do VGF sobre o funcionamento dos neurônios com a prática de exercícios”, lembra Duman. “O VGF fortalece as conexões entre essas células ou as protege dos efeitos do estresse?”, questiona-se.

Duman conta que pretende continuar os estudos sobre a relação entre a atividade física e a depressão para entender melhor esses mecanismos. “Esperamos encontrar efeitos similares em humanos no futuro para o desenvolvimento de novos medicamentos antidepressivos que sejam mais rápidos e tolerados pelos pacientes”.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
03/12/2007