Rottenburg é uma pequena cidade a sudeste de Stuttgart, capital do estado alemão de Baden-Württemberg. Tão diminuta quanto o município é uma das instituições que ele abriga: a Universidade de Ciências Florestais Aplicadas de Rottenburg (HFR, na sigla em alemão).
A HFR tem apenas 70 funcionários e menos de mil alunos, mas seus cursos de graduação e mestrado em energias renováveis são considerados de excelência e lhe renderam prêmios da Unesco e do governo alemão. A instituição mantém vários projetos de cooperação internacional, inclusive com o Brasil.
Um dos cursos mais recentes da universidade é voltado para os aspectos técnicos da indústria madeireira, incluindo novas aplicações sustentáveis desse material, como seu uso na construção civil.
Para o reitor da instituição, o economista Bastian Kaiser, há muitas vantagens em se usar madeira de modo sustentável nesse setor. “Em primeiro lugar, a madeira retira gás carbônico, um gás de efeito estufa, do meio ambiente”, observa Kaiser. “Além disso, produzir concreto e cimento requer muita energia”, acrescenta.
E ainda: “Se aumentarmos o uso da madeira, criamos uma renda para os proprietários de áreas florestais de manejo sustentável e estimulamos essa atividade. Como bônus, ambientes construídos com madeira requerem menos energia para manter um clima agradável.”
Para provar que acredita no que ‘prega’, a HFR utilizou os recursos ganhos com uma premiação em excelência para construir um anexo de laboratórios cuja estrutura é quase toda de madeira proveniente de áreas de manejo sustentável, que, na Alemanha, inclui todas as florestas do país – um cenário bem diferente do encontrado no Brasil.
O anexo tem o piso feito de pinheiro-branco (Pinus albans) e as paredes de Picea abies, uma conífera originária da Europa muito usada como árvore de Natal. Apenas o auditório e os laboratórios químicos do prédio contam com outros materiais.
As instalações contam ainda com placas especiais, também de madeira, capazes de resistir ao fogo durante 90 minutos.
Mas e os cupins?
Uma pergunta que vem logo à cabeça é como manter a construção livre dos vorazes cupins e brocas. Segundo Kaiser, não há qualquer necessidade de proteção extra, desde que a madeira utilizada passe por um processo de secagem.
“Nossa sociedade perdeu a paciência e usa madeira úmida nas construções, o que a torna propensa a ataques de cupins. Secar madeira é um processo demorado. Se feito naturalmente, pode levar três anos. Com auxílio técnico, o tempo cai para 30 horas.”
O reitor da universidade alemã ressaltou que no Brasil esse processo seria ainda mais rápido, já que a secagem natural, segundo ele, leva de seis meses a um ano.
Aqui, a madeira para a construção civil poderia ser obtida, por exemplo, nas áreas de manejo sustentável que a HFR, em colaboração com a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), do Paraná, administra com o apoio de associações de pequenos agricultores.
A iniciativa faz parte de um projeto de cooperação entre os dois países iniciado em 2010, que visa estimular a criação de florestas para exploração sustentável em áreas não aproveitadas para a agricultura e cuja reserva florestal é assegurada por lei, como encostas e margens de rio.
“Nossa ideia é mostrar que esse tipo de aplicação é possível e até mesmo desejável, pois é vantajosa”, defende Kaiser. “Ela ajuda a formar uma estrutura de incentivo ao manejo florestal sustentável, criando uma demanda para esse produto.”
Fred Furtado*
Ciência Hoje/ RJ
* O jornalista viajou a convite do governo de Baden-Wurttemberg.