Em 2007, após décadas de pesquisa, 39 cientistas, liderados por pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), produziram um catálogo com todas as espécies conhecidas de peixes de água doce do Brasil. O resultado foi o maior inventário deste tipo já feito no país, com 2.587 espécies listadas.
A partir do trabalho inicial, pesquisadores da USP e da UFRJ mapearam agora mais de 800 espécies com distribuição geográfica restrita e grande vulnerabilidade no país.
O novo estudo, feito em parceria com a ONG Conservação Internacional (CI-Brasil), foi publicado na revista científica PLoS One. Ele consolida os dados mais relevantes do inventário e chega a um resultado alarmante: das 540 bacias hidrográficas identificadas como áreas prioritárias, apenas 26% podem ser consideradas como protegidas.
A análise da distribuição das espécies de peixes raros permitiu identificar as 540 bacias hidrográficas consideradas Áreas-Chave para a Conservação (ACB) dos ecossistemas aquáticos brasileiros.
Essas bacias são áreas essenciais para a manutenção da biodiversidade, pois abrigam espécies de peixes que não ocorrem em nenhuma outra parte do mundo.
“O resultado mais importante foi a identificação dessa quantidade de áreas que precisam de atenção imediata”, conta Paulo Buckup, ictiólogo do Museu Nacional da UFRJ e um dos autores do artigo. Segundo ele, essas áreas precisam de atenção porque abrigam um conjunto de espécies particularmente vulneráveis à extinção.
Um peixe por semana
O novo banco de dados já está disponível na internet. O ictiólogo afirma que sua atualização precisa ser frequente, já que o Brasil possui a maior diversidade de peixes do mundo. “Há muitos peixes que já foram extintos e que sequer foram descritos. Por isso, é muito importante catalogar o maior número possível”, diz Buckup.
Os cientistas brasileiros descrevem mais de uma espécie por semana, o que demonstra a importância do trabalho de taxonomia de peixes em nível internacional.
“Esses dados podem ser usados para ajudar na conservação ambiental. Órgãos públicos devem acessar o banco on-line para se atualizarem sobre que espécies precisam de mais atenção”, afirma o ictiólogo.
Os maiores vilões são a poluição e construção de barragens nos rios. Por isso, a equipe de pesquisadores defende a criação de novas medidas de conservação, capazes de conter os danos causados, principalmente, pelo esgoto e pela mineração.
Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line