Pela preservação das preguiças

PopulaçõesPesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo o primeiro estudo sobre a diversidade genética das preguiças de três dedos. O trabalho pretende esclarecer, a partir da análise do DNA desses animais, a história evolutiva recente de suas populações. Os resultados, aliados a informações sobre a biologia, ecologia e comportamento dessas espécies, indicarão a necessidade de um plano de conservação para as preguiças, que estão ameaçadas pela fragmentação e destruição de seus hábitats.

A preguiça comum (Bradypus variegatus ) é encontrada
em áreas florestadas em todo o Brasil e em parte das
Américas do Sul e Central (fotos: Nadia Moraes-Barros)

Das seis espécies atualmente conhecidas, cinco ocorrem no Brasil e duas são estudadas, desde 1999, pelo Laboratório de Biologia Evolutiva e Conservação de Vertebrados (Labec) da USP. Uma delas é a preguiça-de-coleira ( Bradypus torquatus ), só encontrada na fauna brasileira. Devido à progressiva devastação de sua área de ocorrência, essa preguiça é considerada uma espécie ameaçada de extinção pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela União Mundial de Conservação (IUCN). A outra é a preguiça comum ( B. variegatus ), encontrada no Brasil e em parte das Américas do Sul e Central.

Já foram analisadas até agora as composições genéticas de 60 indivíduos dessas duas espécies, tanto encontrados na natureza quanto pertencentes ao acervo de instituições como o Museu de Zoologia da USP. O estudo concluiu que as populações das espécies B. torquatus e B. variegatus apresentam baixa variabilidade genética e são muito distintas entre si.

A preguiça-de-coleira (B. torquatus) só é encontrada na fauna brasileira.
Ela ocorre na porção sul da mata atlântica (RJ, ES, BA e parte do AL)

O resultado já era esperado pelos pesquisadores, pois as preguiças são animais de movimentação restrita, não migram e tendem a compor populações geograficamente bem estruturadas. Com o aumento da fragmentação de suas moradias, essas populações tendem a se isolarem mais, o que pode intensificar a baixa diversidade genética e acarretar a redução da viabilidade populacional.

Nadia Moraes-Barros, bióloga do Labec responsável pelo estudo, alerta que essa baixa variabilidade deve ser abordada com ressalva: “Não existem dados de senso que indiquem alteração do número de indivíduos ou redução da variabilidade das populações naturais devido a uma falta de estudos anteriores sobre a espécie. Assim, não sabemos quão baixa é realmente a variabilidade genética encontrada para esse grupo de animais”. Nadia explica que populações de outros mamíferos exibem baixos índices de variabilidade genética e não estão em perigo de extinção ou com o crescimento e viabilidade populacionais comprometidos.

O estudo também concluiu que cada população compõe uma parcela da variabilidade genética total da espécie. Nadia afirma que o dado tem implicações conservacionistas importantes. “No caso de se instituir um plano de conservação para as preguiças, talvez seja melhor, para manter essa diversidade, construir reservas em localidades diferentes ao invés de uma única que vise à preservação de toda a espécie.”

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
02/04/04