Período fértil aguça competitividade feminina

Você está no trabalho ou na praia, conversando com uma amiga. De repente, ela comenta, reservada: “olha só como fulana está estranha! Que corte esquisito de cabelo, e como ela está gorda!” Sua amiga deve estar no período fértil — pelo menos é o que sugere uma pesquisa publicada em janeiro na edição on-line da revista britânica Proceedings of the Royal Society B .

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Mary Fisher, professora do departamento de psicologia da Universidade York, no Canadá, assina o artigo e explica que as mulheres com altos níveis de estrogênio — ou seja, que estão no período fértil do ciclo menstrual — tendem a considerar menos atraentes suas possíveis rivais.

A razão desse comportamento, afirma a pesquisadora, seria provocar condições favoráveis ao acasalamento justamente no período da ovulação. “Além do comportamento de autopromoção, que já foi estudado anteriormente, foi possível identificar pela primeira vez em estudos empíricos esse mecanismo de degeneração das concorrentes”, explica Fisher à CH On-line .

As conclusões foram obtidas em um estudo realizado com 57 universitárias, induzidas a classificar fotos de rostos de outras mulheres em uma escala de extremamente atrativa a extremamente não-atrativa. “Eliminamos do grupo de pesquisa as mulheres que estavam usando anticoncepcionais ou tinham ciclos menstruais irregulares para que condições hormonais anormais não afetassem os resultados”, ressalta Fisher. Foram classificados ainda rostos masculinos, e um grupo de controle foi formado por homens, que também deram suas notas às fotos de mulheres e homens.

“Separamos as participantes de acordo com o período da ovulação. Aquelas que estavam no período fértil (entre 12 e 21 dias após a menstruação) atribuíram notas significativamente menores à atratividade das modelos apresentadas, se comparadas às notas dadas pelo grupo com baixos níveis de estrogênios e pelos homens.” Já os rostos masculinos receberam notas iguais dos dois grupos femininos, o que exclui a interferência de possíveis variações de humor nas avaliações.

Para alcançar o máximo de fidelidade na comparação das respostas, Fisher reuniu fotos de pessoas desconhecidas para a pesquisa e lhes pediu que fizessem expressões neutras, usassem roupas pretas e retirassem bijuterias.

Outra revelação curiosa do estudo pioneiro é a avaliação feita por homens de rostos do mesmo sexo. “Os homens deram notas mais altas aos rostos masculinos do que as mulheres, provavelmente por não estarem acostumados a fazer esse tipo de avaliação e por não os considerarem parceiros prováveis, condição que diminui o nível de exigência.”

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
15/03/04