Pernambucano é o primeiro brasileiro a ganhar prêmio Galileu Galilei

null

Cid B. de Araújo recebe o prêmio Galileu Galilei durante congresso realizado em outubro na Ilha Margarita (Venezuela)

Pela primeira vez um brasileiro recebeu o prêmio Galileu Galilei, promovido pela Comissão Internacional de Óptica desde 1993. O físico Cid Bartolomeu de Araújo, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi condecorado pelo conjunto de seus estudos na área de óptica não-linear – ele pesquisa o comportamento da matéria quando submetida a feixes de luz de alta intensidade (lasers).

O prêmio é concedido uma vez por ano a um pesquisador da área de óptica em reconhecimento a “contribuições científicas excepcionais produzidas sob circunstâncias comparativamente desfavoráveis”. “Isso se refere a dificuldades econômicas ou sociais que prejudicam o acesso a fontes de informação e a facilidades tecnológicas, se compararmos nossas condições no Nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do planeta, com a de países desenvolvidos”, afirma Cid à CH On-line .

Dentre os trabalhos realizados, Cid e seus colegas foram os primeiros a propor, em 1980, que duas moléculas distintas, interagindo entre si dentro de um cristal orgânico, podem absorver simultaneamente dois fótons (’corpúsculos’ de luz). Excitadas, essas moléculas fosforescem a seguir, o que permite a observação de moléculas distantes entre si por 12 nanômetros (essa unidade de medida corresponde a bilionésima parte do metro). Esse efeito só pôde ser observado em 2002 por um grupo de cientistas alemães, que comprovaram as hipóteses do grupo brasileiro.

A descoberta desse efeito foi possível graças ao aumento de dez vezes da resolução de um tipo especial de microscópio óptico chamado confocal, que permite produzir imagens tridimensionais. “Entender como ocorre esse processo poderá contribuir muito para a realização da computação quântica”, comemora o pesquisador. Apontada como o futuro da computação, ela se baseia em conceitos de mecânica quântica e propõe que a informação seja processada por átomos, e não mais por chips.

null

A medalha recebida pelo físico brasileiro

O pesquisador também foi premiado por ter estudado vários processos de chaveamento óptico. “Descobrimos que alguns compostos químicos podem mudar o estado da luz em velocidades muito grandes”, afirma. “Isso pode permitir aumentar a velocidade com que poderão funcionar as chaves dentro de um computador óptico, por exemplo, o que resultará na produção de máquinas com processamento super rápidos.” Cid esclarece ainda que esse fenômeno pode fazer com que mensagens sejam produzidas na forma de pulsos bem curtos, o que faria com que mais informações sejam processadas em menos tempo.

 

O físico destaca o fato de estudos em óptica não-linear apresentarem geralmente resultados práticos visíveis em curto prazo. “Nossos trabalham visam o entendimento de fenômenos que se manifestam na natureza. Trata-se de pesquisa científica, e não tecnológica. No entanto, é ótimo ver o trabalho reconhecido e rapidamente aplicado quando possível.”

 

O físico ressalta ainda que o prêmio é importante para a valorização de pesquisas brasileiras. “A divulgação mais ampla da pesquisa poderá atrair mais jovens para a ciência e contribuir para o aumento da nossa ainda pequena comunidade científica.”


Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
04/11/04