Os portos marítimos do Brasil, responsáveis por 90% das importações e exportações do país, movimentam bilhões de reais por ano em forma de carga. Mas além do grande volume de dinheiro, circulam nesses locais toneladas de lixo. Esses resíduos são agora alvo de programa da Secretaria de Portos coordenado por pesquisadores da Coppe, instituto de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o objetivo de encontrar soluções sustentáveis de gestão do lixo portuário.
O chamado ‘Programa de Conformidade Gerencial de Resíduos Sólidos e Efluentes dos Portos’ teve início no ano passado. Desde então, cerca de 250 pesquisadores, de biólogos a engenheiros, estão identificando os resíduos mais comuns em 22 portos de 14 cidades de norte a sul do país.
“Os portos são a porta de entrada do país, entram mercadorias e também muito lixo das embarcações, sem contar os resíduos da própria estrutura administrativa e de operação portuária”, diz um dos coordenadores do projeto, o engenheiro Aurélio Murta, da Coppe. “Nosso objetivo é dar condições para que os portos lidem com esse lixo de maneira melhor, para que eles não impactem o meio ambiente.”
O engenheiro conta que cada porto tem um perfil diferente de resíduos. Alguns, como o do Rio de Janeiro, concentram carga de contêineres, que não geram lixo, enquanto outros, como o Paranaguá, no Paraná, recebem muitos carregamentos de grãos, que acabam caindo durante o transporte e se depositando no fundo do mar.
Os portos produzem ainda lixo semelhante ao de residências e escritórios, como restos de comida, papel e esgoto sanitário. Tudo isso, além de poluir o meio ambiente, atrai animais perigosos para saúde humana, como ratos, pombos, baratas e escorpiões. Por isso o programa também está identificando a fauna nociva de cada cais.
“Esses bichos podem ser vetores de doenças”, lembra o geógrafo Marcos Freitas, coordenador no projeto. “Por isso vamos capturar alguns espécimes e estudá-los em laboratório para pensar em estratégias de controle da população desses animais.”
A fase de diagnóstico dos portos está prevista para encerrar no final deste ano. Depois disso, os pesquisadores vão elaborar planos de gerenciamento dos resíduos.
Pela análise que já foi feita até agora, Freitas arrisca dizer que 90% do lixo produzido nas docas podem ser reciclados ou reaproveitados. “As possibilidades são muitas. Podemos, por exemplo, reaproveitar a água da chuva para uso do porto e nas embarcações e gerar energia com os resíduos trazendo economia na conta de luz ou até receita extra, se o excedente for vendido.”
Por meio da análise dos manifestos de retirada – documento que descrimina todo o lixo das embarcações, apresentado obrigatoriamente depois de sua chegada aos portos – os pesquisadores estimam que cerca de 20% dos resíduos dos navios possam ser reaproveitados de alguma forma.
A iniciativa da Coppe está prevista entre as ações no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e conta com R$ 16 milhões para essa primeira fase de trabalho.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line