O desmatamento tem roubado a cena na lista de fatores responsáveis pelas mudanças climáticas. Exemplo disso é a criação do sistema de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), que pretende frear o ritmo de destruição das florestas.
O mecanismo foi um dos pontos mais discutidos e fortalecidos na Conferência da ONU em Cancún, no México, encerrada na madrugada de sábado (11), em clima de otimismo. (Leia em nosso blogue um balanço sobre a COP-16)
Por trás dele, está a estratégia de recompensar financeiramente os países comprometidos em preservar suas matas naturais, já que essa postura seria determinante para estabilizar o clima global.
Para engajar a sociedade civil na discussão sobre as ações nacionais de REDD que estão sendo debatidas e desenvolvidas em seus países, foi criada a rede social independente UN-REDD América Latina y Caribe. Implantada por iniciativa do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam), a rede funciona como um fórum de discussões e está no ar desde outubro de 2009.
A criação da rede foi motivada pelo fato de o sitema de REDD ter dividido opiniões quando a ONU lançou, em 2008, um programa chamado UN-REDD para orientar os países em desenvolvimento a elaborarem estratégias nacionais de redução das emissões por desmatamento e degradação. Em outubro de 2009, o Ipam foi eleito por organizações da sociedade civil da América Latina e do Caribe para representá-la no Conselho Normativo do programa.
Para mobilizar a sociedade
Funcionar como um instrumento de interação e discussão do Programa da ONU de REDD. É esse o objetivo da rede, na qual estão disponíveis documentos e programas de REDD+ (como são chamadas as ações de redução das emissões). Basta fazer o cadastro para participar dos fóruns, lançando questões e acompanhando o andamento do programa e as decisões de seu Conselho Normativo .
“A ideia era envolvermos a sociedade nessa discussão e, já que tínhamos que representar um continente inteiro (formado pela América Latina e Caribe), a rede virtual foi a melhor opção”, conta Paula Moreira, advogada e representante do Ipam no Conselho Normativo.
Segundo ela, ainda é difícil atingir a todos. “A mobilização na rede ainda depende muito de um animador, para levantar discussões, enviar mensagens aos membros. Sempre que há uma reunião no Conselho, por exemplo, e postamos novidades, a participação aumenta.”
Os países com participação mais ativa na rede social são a Bolívia e o Paraguai, que, junto com o Panamá, foram os escolhidos para iniciar a implementação de ações de REDD, com o apoio técnico e financeiro do programa da ONU. O engajamento dos brasileiros na rede, que reúne ao todo mais de 130 membros, ainda é pequeno, já que o país não foi um dos selecionados nessa primeira fase de implantação.
O Brasil, segundo Paula Moreira, é a favor da adoção de ações de REDD, mas contra o seu financiamento pelo mercado de carbono, uma das alternativas de compensação pela manutenção das florestas. Esse tipo de mercado estabelece que os países em desenvolvimento podem vender créditos de carbono para nações desenvolvidas que estejam emitindo acima do permitido.
Como anunciou o governo brasileiro na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2006 (COP-12), o Brasil defende doações voluntárias dos países desenvolvidos como estratégia nacional de lidar com esse sistema de redução das emissões.
As discussões
No fórum da Bolívia, país que já concluiu o documento do Programa Nacional Conjunto de REDD, em que são descritas as ações de redução a serem adotadas, a participante Sissy Nakashima levantou uma preocupação: a de o governo criar falsas expectativas na população local de Pando, região ao norte da Bolívia, com a promessa de que os recursos do sistema de REDD enriqueceriam as regiões onde serão investidos. “É preciso ter cautela, porque o REDD não é a solução de todos os problemas das regiões com floresta”, alertou.
André Nahur, também membro da rede e pesquisador do Ipam, destacou no mesmo fórum a importância de se levar os projetos e ações ao conhecimento da comunidade indígena boliviana, que será diretamente afetada pelo sistema de REDD.
“Em nossos países, temos que assegurar que a informação sobre o que são mudanças climáticas, carbono e projetos de redução do desmatamento chegue às bases”, afirmou. E concluiu: “O foco é capacitá-las, com uma linguagem de fácil entendimento, para que no futuro saibam tratar desses assuntos com autonomia.”
Carolina Drago
Ciência Hoje On-line