Muito além do canabidiol e do THC

BIOLOGIA QUÍMICA SOCIOLOGIA

ELEMENTAIS
Muito além do canabidiol e do THC

Instituto de Química/UFRJ

O tema é polêmico, está em todas as mídias e permeia o cotidiano das famílias. Trata-se do uso medicinal de uma planta que pode tratar doenças neurodegenerativas, ansiedade, epilepsia, dentre outras, mas está sob polêmica do uso como droga ilícita e ligada ao crime organizado: a Cannabis sativa e outras espécies do gênero.

O texto “Muito além do canabidiol e do THC”, publicado em CH 412, traz novos aspectos ao assunto por apresentar inúmeras substâncias presentes em espécies de Cannabis que possuem alto valor terapêutico. Ou seja, a pesquisa acerca da química e da farmacologia do gênero Cannabis vão para além do canabidiol e do THC, por considerar um conjunto de compostos químicos que agregam benefícios aos medicamentos feitos a partir dessas espécies vegetais.

Ao apresentar um conjunto de moléculas orgânicas, uma abordagem para o ensino médio pode considerar as características das cadeias carbônicas, os grupos funcionais ou a estereoquímica. A dica de química se encaminha para uma atividade sobre identificação de carbonos assimétricos nas moléculas orgânicas e uma problematização dos conceitos teóricos em sistemas rígidos – os biciclos.

Aliado aos aspectos químicos, o debate em sala de aula pode ser conduzido com o auxílio de um vídeo sobre o uso medicinal da Cannabis.

Possibilidades de abordagem:

  • Discutir a importância da pesquisa para o descobrimento de novos fármacos a partir das espécies vegetais como a Cannabis, dentre outras;
  • Identificar os carbonos assimétricos em moléculas presentes em espécies de Cannabis;
  • Mostrar a complexidade de moléculas rígidas, como os biciclos, quanto à determinação de números de estereoisômeros;
  • Promover o debate acerca do uso medicinal da Cannabis no Brasil.

Proposta de atividade:

A dica de química sugere ao professor utilizar a fórmula estrutural das substâncias citadas no texto publicado em CH 412 para dar continuidade ao tema estequiometria, mais especificamente a identificação de carbonos assimétricos nas moléculas orgânicas. 

O texto é uma referência para o professor construir de três a cinco slides que resumam o uso medicinal de espécies vegetais do gênero Cannabis, como a C. sativa, C. indica e C. hybrids.

O texto “Muito além do canabidiol e do THC” indica uma base de dados de pesquisas sobre Cannabis (https://cannabisdatabase.ca/). O professor pode apresentar a base de dados para a turma, ressaltando o enorme trabalho da ciência para verificar diversos aspectos relacionados à composição de espécies de Cannabis e discutir as propriedades farmacológicas das substâncias citadas no texto. 

Em seguida, o professor pode projetar as imagens das moléculas ou fornecer uma folha de exercícios onde os estudantes deverão saber reconhecer se há presença de carbonos assimétricos nas moléculas de ácido α-linolênico (ácido graxo), α-pineno, β-cariofileno e β-mirceno.

A atividade vai requerer um conhecimento prévio dos estudantes sobre as características de um carbono assimétrico, ou seja, o carbono deverá estar ligado a quatro ligantes diferentes e o número de estereoisômeros possíveis a partir dos centros assimétricos. 

Após a atividade, o professor pode fazer um aprofundamento, no sentido de problematizar alguns conceitos em química, sobre o número de enantiômeros do alfa-pineno, que são dois: (-)-α-pineno e (+)-α-pineno.

O α-pineno é um composto de cadeia carbônica cíclica, onde dois ciclos estão unidos formando um biciclo do tipo “ponte”. Ainda que os dois átomos das posições 1 e 5, respectivamente, sejam assimétricos, a regra 2n para calcular o número de estereoisômeros de uma molécula – que resultaria em quatro estereoisômeros- não é válida porque, nesse caso, a ponte é necessariamente cis devido à rigidez da estrutura molecular onde não é possível o isômero trans. Para uma melhor visualização da estrutura, o professor pode utilizar modelos moleculares físicos.

Vale ressaltar que no (-)-α-pineno a ligação entre os carbonos 1, 5 e 6 se projetam para acima do plano da molécula e no (+)-α-pineno os carbonos 1, 5 e 6 se projetam para baixo do plano da molécula.

Ao discutir os enantiômeros do α-pineno, o professor deve aproveitar para conduzir os estudantes à reflexão sobre a complexidade teórico-prática envolvida no desenvolvimento das pesquisas em química e nas demais áreas do conhecimento. O estudo das propriedades medicinais da Cannabis envolve pesquisa séria e uma demanda social por medicamentos eficazes com pouco ou nenhum efeito colateral.

Num segundo momento, o professor pode propor um vídeo-debate a partir da reportagem intitulada “Os desafios da cannabis medicinal no Brasil” (link indicado no item “Explore +”). Algumas perguntas podem ser feitas à turma, em pausas, durante a exibição. Os estudantes podem ser indagados sobre suas percepções acerca do uso medicinal da Cannabis e se já ouviram falar no Projeto de lei 399/15, que prevê o cultivo de C. sativa no Brasil para fins medicinais.

As aulas de química devem se pautar não só nas bases teórico-práticas dessa área do conhecimento, mas, sobretudo, na preparação dos estudantes para o exercício da cidadania e da tomada de decisões conscientes. É papel da escola propiciar momentos de debate e reflexão sobre um tema sensível que tem reflexos na saúde pública.

Recursos utilizados:

  • Texto publicado em CH 412, intitulado “Muito além do canabidiol e do THC”; 
  • Projetor de slides; 
  • Computador, acesso à internet, folha de exercícios e modelos moleculares físicos.

Explore +

Gonsalves, A. M. D. R.; Serra, M. E. S.; Eusébio, M. E. S. Estereoquímica. Universidade de Coimbra, 2011. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/estereoquimica_2011.pdf. Acesso em agosto de 2024.

Jornalismo TV Cultura. Opinião – Os desafios da cannabis medicinal no Brasil, 12/07/2024. YouTube. 27 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ch8RQ1a_rH0. Acesso em agosto de 2024.