Saurópodes eram capazes de boiar na água

Os saurópodes, os maiores animais terrestres que já existiram, eram capazes de boiar na água. Essa conclusão, à qual chegou por acaso um paleontólogo canadense, pode colocar um ponto final na discussão sobre a origem de pegadas fossilizadas apenas das patas dianteiras de dinossauros desse grupo encontradas no oeste americano.

O Amazonsaurus maranhensis é uma espécie de saurópode recém-descoberta por pesquisadores brasileiros. Semelhante ao diplodoco, ele também teria sido capaz de boiar. (Imagem: Ariel Milani /Faperj)

Desde o início do século 19, quando os primeiros fósseis de saurópodes foram descobertos, os cientistas especulavam se esses animais viviam na água, na terra ou ambos. Inicialmente, presumiu-se que eles eram aquáticos, pois se acreditava que esses gigantescos animais não seriam capazes de sustentar seu próprio peso em terra. Essa conclusão se apóia na hipótese de que os saurópodes seriam densos o bastante para afundar na água.

Porém, nos anos 1970 os pesquisadores começaram a cogitar se eles não seriam capazes de boiar, já que tinham vértebras ocas. “Os saurópodes possuíam esqueleto pneumático e sistemas de sacos de ar ao longo do pescoço, da coluna e até a base da cauda em alguns casos, assim como grandes sacos em volta de seus pulmões,” disse à CH On-line o paleontólogo Donald Henderson da Universidade de Calgary (Canadá).

 

Em alguns saurópodes, o espaço que na maioria dos vertebrados (com exceção dos pássaros) é destinado aos ossos, músculos e órgãos era ocupado por sacos de ar, representados em azul, amarelo e vermelho (imagens: D. Henderson)

O paleontólogo havia desenvolvido um software para estudar os efeitos de pedras no estômago na capacidade de flutuação de crocodilos e, só por curiosidade, resolveu testá-lo em modelos de saurópodes em 3D com os quais ele também havia trabalhado em outro estudo. O resultado foi publicado em 12 de dezembro de 2003 na versão on-line da revista Biology Letters .

 

As quatro espécies de saurópodes testadas no estudo — apatossauro, braquiossauro, camarassauro e diplodoco — foram escolhidas pelo fato de suas ossadas completas já terem sido encontradas e por terem habitado o oeste dos EUA durante o final do período Jurássico (há cerca de 150 milhões de anos). Os incomuns rastros fossilizados de saurópodes encontrados nessa região provavelmente foram feitos por camarassauros ou braquiossauros, conclui Henderson, pois possuíam patas dianteiras mais longas e flutuavam na horizontal.

 

A animação acima mostra como o braquiossauro seria capaz de boiar, segundo o modelo de Henderson. A simulação explicaria as pegadas apenas de patas dianteiras de saurópodes encontradas nos EUA

Parece paradoxal que dinossauros tão grandes como o braquiossauro, que pesava mais de 25 toneladas e tinha aproximadamente 24 metros de comprimento, pudessem boiar. “Os saurópodes eram muito leves”, explica Henderson. “Eles sequer poderiam utilizar o pescoço como snorkel para andar no fundo de lagos e rios, pois seria fisicamente impossível para eles afundar até lá.”

 

O paleontólogo acredita que sua conclusão também possa ser estendida a outras espécies de saurópodes, como o Amazonsaurus maranhensis , espécie semelhante ao diplodoco que habitava a Amazônia há mais de 110 milhões de anos. Ele supõe que apenas as espécies mais antigas de saurópodes — como o cetiossauro, que habitou a Inglaterra em meados do período Jurássico — não boiavam, por possuírem ossos muito densos. Conforme evoluíram, os saurópodes ficaram cada vez maiores e com ossos mais leves.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
26/01/04

 

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