Tinta invisivel ajuda a identificar objetos roubados

Uma tinta sem cor e sem cheiro, de secagem rápida e capaz de ser aplicada em várias superfícies acaba de ser criada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A tinta, que só é vista com a incidência da luz ultravioleta, pode servir, por exemplo, para marcar obras de arte e cédulas de dinheiro e, assim, ajudar a identificá-las em caso de roubo.
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As letras DAS, escritas com a tinta invisível em uma cédula de R$ 50, aparecem sob a luz ultravioleta (fotos: Eliana Pegorim)

“A tinta pode ajudar muito na segurança”, comemora o químico Cláudio Lopes, coordenador do projeto. O estudo foi apresentado recentemente à comunidade científica em uma conferência realizada no Queen’s College, em Oxford, Inglaterra. “Com a marcação é possível identificar se algum objeto te pertence”, completa.

 
Tintas invisíveis já são produzidas em outros lugares do mundo e usadas por empresas de segurança. Mas essas empresas geralmente não as vendem separadas, somente em pacotes com outros serviços. Muitos cartões de crédito internacionais também possuem marcações com essas tintas, que só podem ser vistas com o ultravioleta.
 
A descoberta da tinta aconteceu por acaso. Os pesquisadores preparavam uma substância intermediária para a produção de um antiofídico quando, de repente, faltou luz. O estudante de química Maicon Guerra utilizou uma lâmpada ultravioleta para procurar um objeto e, ao dirigir seu foco para a substância (3-aril cumarina), ela produziu uma grande luminescência.
 
O grupo do Laboratório de Análise e Síntese de Produtos Estratégicos (Lasape) do Instituto de Química desenvolveu então uma mistura de solventes ‐ semelhante à usada em impressoras a jato de tinta ‐ para solubilizar as cumarinas e produzir a tinta invisível. Eles dispuseram-na dentro de canetas marca-texto. A tinta pode ser aplicada ainda com carimbos ou pincéis.
 
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Computador do Laboratório de Análise e Síntese de Produtos Estratégicos (Lasape) identificado com a tinta invisível

A marcação pode ser muito útil em casos de extorsão e seqüestro. “Podemos marcar as cédulas e depois provar de quem eram”, indica Lopes. “Documentos que devem ficar restritos em uma sala de segurança também podem ser marcados pois, ao passarem por um detector de ultravioleta, os documentos irão fluorescer e acionar uma câmera capaz de identificar o autor do furto”, exemplifica.

 
Outro uso importante é a impressão de marcas d’água com essa tinta para assegurar a veracidade de um documento. “É também possível marcar pneus e outros acessórios de automóveis para que se identifique se foram roubados ou trocados”, ressalta.  
 
A tinta não é tóxica e pode ser aplicada em animais. “Ela pode ser usada para marcar o gado e substituir o ferro em brasa e o uso de ácidos”, explica o químico. Um bom lugar para marcação é a parte interna da orelha de bovinos e eqüinos, porque é uma parte escura, que não está exposta diretamente à luz do Sol. Animais de estimação também podem ser marcados para que, em caso de fuga ou roubo, seja possível identificá-los.
 
 A tinta foi produzida com matérias-primas nacionais e de baixo custo. “O que gasta mais tempo é retirar a carga das canetas para colocarmos a nossa tinta”, lamenta Lopes. “O ideal seria termos um parceiro que nos fornecesse as canetas com cargas vazias.”
 

Ainda não há previsão de entrada no mercado, mas cada caneta deve ser vendida por um preço em torno de R$ 20. A tinta invisível já foi patenteada pela UFRJ e a idéia é que parte do lucro com a venda seja revertida para programas da universidade, como bolsas de iniciação científica, ajuda a estudantes carentes e bandejões.

Eliana Pegorim
Ciência Hoje On-line
25/10/04