Turismo ameaça tranqüilidade de baleias

As atividades de turismo nas áreas de reprodução das baleias jubarte na costa brasileira podem causar problemas a mães e filhotes recém-nascidos. É o que indica a dissertação de mestrado da bióloga Diana Simões, recém-defendida na Universidade de Brasília. Ela comparou durante três anos o comportamento de diferentes grupos de baleias jubarte no litoral norte da Bahia e no banco de Abrolhos, no sul desse estado.

Barcos de turistas podem interromper a amamentação dos filhotes e o repouso das fêmeas (foto: André Afonso Machado Coelho)

As jubartes migram do continente antártico no outono à procura de águas mais quentes e calmas para acasalar e ter filhotes. Elas vêm para muitos pontos da costa brasileira, principalmente no banco dos Abrolhos e no litoral norte da Bahia, aonde chegam solitárias ou em grupos. Durante uma série de expedições, Diana observou esses grupos e analisou seu comportamento. Ela constatou, por exemplo, que o comportamento agressivo é mais comum em grupos maiores, quando vários machos disputam a proximidade a fêmea; em grupos formados por mãe e filhote, ao contrário, a fêmea é mais comumente observada em repouso, flutuando à deriva ‐ provavelmente para acumular energia, quando não está navegando.

 
Esses grupos formados por mãe e filhote são os que mais preocupam a bióloga. No litoral brasileiro, as fêmeas se encontram em condição bastante fragilizada, após ter enfrentado a árdua migração e o trabalho de parto. Para complicar, elas e as outras baleias jubarte inexplicavelmente não se alimentam durante sua permanência nas áreas de reprodução e ainda precisam amamentar seus filhotes com leite de alto teor calórico, para que eles possam acumular uma camada de gordura que os proteja das gélidas águas antárticas.
 
A observação desses delicados grupos mostrou que a fêmea e o filhote podem ser perturbados mesmo pelas expedições turísticas que obedecem às especificações legais (distância mínima de 100 metros do grupo e permanência máxima de 30 minutos). “As mães saem de seu repouso e os filhotes interrompem a amamentação”, afirma Diana. “A própria relação mãe-filhote pode ficar comprometida.”
 
Os abusos podem ser mais comuns nas regiões do litoral baiano não pertencentes a áreas de proteção ambiental, onde não há fiscalização. Segundo a bióloga, o fenômeno pode representar um risco para a vida de grupos de fêmeas e filhotes, que podem ter suas interações sociais comprometidas caso não haja ordenamento e fiscalização do turismo nessas áreas. A pesquisadora alerta ainda para a possibilidade de os animais abandonarem o litoral brasileiro em busca de outras áreas para a cria dos filhotes.
Entretanto, Diana não é contra o turismo ecológico na região, que considera benéfico se realizado por profissionais qualificados de forma responsável. “Falta conscientização dos turistas e donos de barcos” afirma. A bióloga propõe uma revisão das normas de avistagem. “No caso das mães com filhotes, uma maior distância e um menor tempo com esses grupos são recomendados.”

O trabalho da bióloga teve o patrocínio da Petrobras, do Instituto Baleia Jubarte e do CNPq.

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
12/05/05