Um olhar para o próprio umbigo


O 44º Congresso Brasileiro de Geologia, que tem como lema “O planeta Terra em nossas mãos”  (reprodução).

“No século 20, o homem deu especial atenção ao espaço; neste século, chegou a hora de olharmos para nós mesmos e para a Terra.” Quem afirma é o geólogo holandês Eduardo de Mulder, diretor-executivo do Ano Internacional do Planeta Terra (2008). Mulder está no Brasil para participar do 44º Congresso Brasileiro de Geologia, que teve início em Curitiba no último domingo e prossegue até 31 de outubro.

O evento reúne centenas de estudantes de graduação e pós, além de expoentes das geociências do Brasil e alguns destaques internacionais, como o geólogo grego Nicholas Zouros, um dos criadores do Sistema Europeu de Geoparques. O lema do congresso é um alerta que conclama o Brasil e o mundo para a busca de um futuro sustentável: “O planeta Terra está em nossas mãos”.

Em sua conferência, Mulder mostrou que o grande desafio para governos, empresas e organizações da sociedade civil é assegurar um planeta saudável para as próximas gerações, o que contraria os interesses econômicos imediatistas que caracterizam os padrões de consumo e produção das sociedades contemporâneas. O holandês destaca que, se os políticos usarem melhor o conhecimento científico para elaborar políticas ambientais, o impacto poderá ser menor para a sociedade.

As perspectivas geocientíficas, na opinião de Mulder, precisam ser assimiladas pela sociedade, uma vez que atividades humanas como agricultura, produção industrial e urbanização podem causar impactos negativos em todos os cantos da Terra. O geólogo lembrou que as fontes de água subterrânea, como os aqüíferos, por exemplo, admitem exploração permanente, mas isso deve ser feito de modo tecnicamente viável, respeitando-se condições geológicas e climáticas.

“A perenidade de um aqüífero pode ser sacrificada se sua exploração exceder às taxas naturais de reposição natural”, disse Mulder. “É necessário, portanto, que haja planejamento técnico.” Na Alemanha e nos Estados Unidos, a exploração dessa fonte é responsável por 70% do consumo total de água. Na Dinamarca e Áustria, todo o suprimento público de água é feito por meio de poços artesianos.

No Brasil, muitas cidades do sul suprem suas necessidades a partir da exploração do aqüífero Guarani. Vale lembrar também que capitais como São Luís, Natal e Maceió são abastecidas por água subterrânea, assim como 80% das cidades do estado de São Paulo.

Mudanças climáticas

Simulação computadorizada mostra a Terra vista do espaço. Em 2008, comemora-se o ano internacional do planeta Terra, por iniciativa da Organização das Nações Unidas, a partir de uma idéia surgida durante o 31º Congresso Internacional de Geologia, realizado no Rio de Janeiro em 2000 (imagem: Wikimedia Commons).

Em sua conferência, o geólogo holandês abordou também o candente – e polêmico – tema das mudanças climáticas. Mulder lembrou que a Terra guarda em suas rochas registros das mudanças ambientais ocorridas durante a longa evolução do planeta e que os geocientistas são os profissionais mais capacitados para interpretar esses sinais.

O holandês lembrou que mudanças climáticas são fenômenos naturais, que fazem parte da história da Terra. “Não há estabilidade no sistema terrestre”, disse. “Mudança climática é regra, não exceção.” A diferença é que a mudança climática vista hoje tem a influência direta do homem, que tem lançado na atmosfera quantidades crescentes de gases que aceleram o processo natural de aquecimento do planeta.

Mulder concluiu sua exposição sobre mudanças climáticas com dados algo surpreendentes. Segundo ele, pesquisas recentes mostram que o aquecimento global apresenta aspectos positivos para países frios como o Canadá e a Suécia. O aumento da temperatura será favorável para a economia desses países, principalmente nas áreas de agricultura e turismo. 

Luan Galani
Especial para a CH On-line / PR
30/10/2008