Unidos contra o HIV

Um grupo de pesquisadores norte-americanos propõe uma nova abordagem para o tratamento contra a Aids capaz de direcionar a destruição do vírus HIV poupando as células sadias. 

O novo método envolve a ação combinada de dois compostos químicos formados por nucleotídeos: o RNA de interferência (RNAi) e o aptâmero, um tipo de ácido nucleico capaz de se ligar facilmente a uma molécula-alvo.

O RNAi é produto de longas moléculas de fita dupla de RNA e, por ser capaz de inibir a expressão de genes específicos, como genes virais, ele pode funcionar como um antiviral. Quando atua sozinho, no entanto, sua ação é limitada. Antes mesmo de ser absorvido pelas células do sangue, esse RNA tende a ser degradado.

Os pesquisadores descobriram uma forma de tornar o RNAi mais eficaz no combate ao vírus da Aids associando-o ao aptâmero. Esse composto químico é capaz de reconhecer o vírus, ligar-se a ele e direcionar o RNAi para dentro das células infectadas pelo HIV. 

Assim, a ação antiviral do RNAi se concentra apenas nas células infectadas, poupando aquelas ainda não atingidas pelo vírus e eliminando os efeitos colaterais que comprometem o sucesso de alguns tratamentos.

Teste HIV resistente
Teste identifica variantes de HIV resistentes a drogas antivirais em sangue de paciente. Os vírus que desenvolveram resistência aos medicamentos aparecem em verde e aqueles suscetíveis aparecem em vermelho. (foto: Duke University Medical Center News Office)

O foco da equipe é justamente os portadores de HIV para os quais a terapia convencional não é eficaz. Isso ocorre, por exemplo, quando os pacientes sofrem efeitos colaterais muito fortes ou apresentam resistência aos medicamentos disponíveis. 

Ratos humanizados

Para testar a nova abordagem, a equipe recorreu a uma técnica recente: o transplante de células do sistema imunológico humano para ratos. 

“Nós usamos uma espécie que não rejeita as células imunológicas humanas e injetamos nele células-tronco do sangue humano”, conta à CH On-line John J. Rossi, do Instituto de Pesquisa Beckman, na Califórnia, e um dos autores do estudo publicado na Science Translational Medicine desta semana.

Assim, os pesquisadores puderam simular em ratos, que geralmente não são infectados pelo HIV, situações observadas em pessoas que portam o vírus e examinar neles a ação combinada dos compostos. 

Transplantadas para os ratos, as células-tronco humanas se diferenciaram em células do sistema imune. O passo seguinte foi infectar os animais com o vírus HIV, que logo foi induzido a se reproduzir sem controle. 

Rato humanizado
Exemplo de um modelo humanizado de rato. Com o transplante de células do sistema imunológico humano para ratos é possível testar métodos para combater o HIV de forma mais rápida e menos custosa. (foto: Courtney Potter)

Assim que as cargas virais atingiram seu auge, a nova terapia entrou em ação: o RNAi acoplado ao sensor molecular foi injetado nos ratos. O teste incluiu uma injeção por semana, ao longo de pouco mais de três semanas.

Combinação eficaz

Ao fim do processo, a equipe mediu os níveis de carga viral e de linfócitos T, as principais células atingidas pelo vírus da Aids. “Essa combinação resultou na redução de um milhão de vezes do número de partículas virais no sangue dos ratos submetidos ao tratamento em relação aos animais controle”, avalia Rossi. 

Alguns ratos tiveram proteção completa contra o vírus HIV

“Além disso, os níveis de linfócitos T foram mantidos nos animais que se submeteram à ação terapêutica, o que representou, para eles, proteção completa contra o vírus HIV.

Os pesquisadores destacam ainda que, além de não ser tóxica, essa abordagem é muito mais rápida e flexível do que descobrir novas drogas para um alvo como o vírus HIV, que vive em constante movimento. 

E esse não é o único ponto positivo, asseguram os cientistas. O uso do rato como modelo animal também traz vantagens: “Esse modelo para o estudo da Aids, em comparação ao anterior, que utilizava macacos, é passível de mais testes, menos custos e menor tempo de resposta”, explica Rossi.  

 

Carolina Drago
Ciência Hoje On-line