Vontade política: o combustível do terceiro milênio

O destino da energia usada pelo planeta está nas mãos dos políticos. Quem afirma são os cientistas Jeffrey Chow, Raymond Kopp e Paul Portney, do centro norte-americano de estudos ambientais Recursos para o Futuro. Em artigo publicado na revista Science de 28 de novembro, eles alertam para nossa dependência excessiva dos combustíveis fósseis. O problema é sério, mas pode ser resolvido com decisões estratégicas corretas.

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Os combustíveis fósseis representam 95% de toda a energia consumida no mundo. Anualmente, isso equivale a 1 trilhão de metros cúbicos de toneladas de carvão, mais de 1 trilhão de barris de petróleo e mais de 150 trilhões de metros cúbicos de gás natural. Esse valor equivale a, respectivamente, 0,5%, 1,6% e 3% das reservas desses combustíveis.

Os autores lembram que a dependência até certo ponto se explica pelo consumo dos países desenvolvidos, sobretudo no setor de transporte — ainda sem muitas alternativas viáveis para obter energia. Já nos países em desenvolvimento, o consumo residencial — que não precisa necessariamente vir do petróleo ou carvão — tem participação mais importante.

Mas as perspectivas não são animadoras. Primeiro porque a tendência desses países é crescer e desenvolver o setor de transporte, o que aumentaria a dependência dos ‘fósseis’. Depois, porque as energias renováveis também apresentam problemas. A energia solar, por exemplo, tem limitações geográficas, além de depender da disponibilidade de sol, e as hidrelétricas têm custo ambiental elevado: provocam alterações nos ecossistemas ribeirinhos e freqüentemente inundam residências e hábitats terrestres.

Já os custos dos combustíveis fósseis, sobretudo de ordem ambiental, são conhecidos: além de liberarem gases poluentes na atmosfera, que contribuem para o efeito estufa e favorecem a ocorrência de chuva ácida ou smog , sua exploração envolve o risco de vazamento de elementos tóxicos como arsênio, cádmio ou mercúrio.

“Nenhuma fonte primária de energia, renovável ou não, está livre de limitações ambientais ou econômicas”, concluem os autores. Por isso, eles defendem que escolhas no campo energético são muito mais questões políticas do que ambientais.

As fontes renováveis de energia somente prevalecerão se forem mais competitivas que as de combustão fóssil — o que soa improvável hoje. Assim, os autores defendem que os governos subsidiem o preço dos renováveis e joguem para o alto o dos combustíveis fósseis — a partir de taxas sobre a emissão de CO 2 , por exemplo. Ao mesmo tempo, dizem, os produtores poderiam ser pressionados para reduzir os impactos ambientais — a partir de uma política de proteção ambiental que garanta ações como a captura de carbono.

Eles afirmam ser pouco provável que dentro dos próximos 50 anos haja escassez dos combustíveis fósseis. No entanto, um equilíbrio de uso com as energias renováveis faria com que não faltasse combustível após esse período e seu preço voltasse a baixar. “Um trabalho político global, mas que começa na conscientização de cada sociedade.”

 

 

Rafael Barros
Ciência Hoje On-line
28/11/03