A temperatura corporal humana média é de 37°C, e a do feto humano é superior à materna de 0,3 a 0,5°C. O aquecimento acima dessa temperatura pode perturbar o processo fisiológico normal do feto, causando, por exemplo, alteração de reações metabólicas ou da migração neuronal ou mesmo morte celular. As consequências são mais graves se essa mudança acontecer no primeiro e no início do segundo trimestres da gestação, quando se dá a organogênese, período em que ocorrem divisões e especializações celulares.
A elevação natural da temperatura do corpo da mãe é utilizada, em pesquisas, para estimar os riscos ao embrião causados pela elevação da temperatura fetal. Embora o risco seja muito pequeno no caso de elevações mínimas de sua temperatura, nunca é igual a zero. A elevação estimada de 1°C acima da temperatura basal fetal durante cinco minutos tem risco de aproximadamente 0,004% para anomalias discretas e de aproximadamente 0,048% para anomalias maiores.
Estudos que avaliaram os efeitos da temperatura materna acima de 38,3°C, por pelo menos 24 horas, no primeiro e início do segundo trimestres (período em que se dá a proliferação e a migração neuronal), demonstram maior risco para anencefalia (ausência total ou parcial da abóbada craniana), microcefalia (menor crescimento cerebral) e deficiência mental.
Maria de Lourdes Brizot
Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo