Pergunta enviada por Mariana Ramos, por correio eletrônico.
Na verdade, a maioria dos peixes marinhos é pouco colorida, assim como os peixes de água doce. A percepção de que os peixes de água salgada são mais coloridos decorre do fato de que grande parte dos peixes marinhos mantidos em aquários ou apresentados em vídeos provém de recifes de corais.
Os corais ocorrem em ambientes tropicais, onde há intensa luminosidade. Nesses locais há grande quantidade de organismos, como corais e invertebrados, associados a algas, que usam a luz do Sol para produzir nutrientes pela fotossíntese ou se camuflar. Como diferentes sistemas fotossintéticos utilizam diferentes comprimentos de onda da luz solar, o resultado é uma grande multiplicidade de cores que, por meio da evolução, se reflete também nos peixes que habitam os corais.
Os peixes que vivem nesses ambientes estão adaptados à profusão de cores. Os padrões de colorido desses animais passaram a ser exacerbados ao longo do tempo pela seleção natural, seja para se camuflar ou para avisar potenciais predadores sobre os perigos de toxinas presentes em suas glândulas de veneno, como é o caso do peixe-leão. O ambiente estruturado e iluminado dos recifes de corais favorece também o desenvolvimento de comportamentos territoriais ou sexuais baseados na coloração.
Já os demais peixes do oceano não apresentam tantas cores. Os peixes marinhos pelágicos, isto é, que vivem em águas abertas, geralmente têm uma coloração baseada apenas em tons de cinza e reflexos prateados, e os peixes de profundidade costumam exibir somente um tom de cor.
A ideia de que os peixes marinhos são muito coloridos se deve a essa preferência pelas espécies de corais para exibição em aquários e também ao fato de os recifes de corais ocorrerem junto à costa. Sua proximidade com a praia cria a impressão, para aqueles que vivem em regiões costeiras tropicais, de que os peixes coloridos são predominantes, situação que não ocorre nas regiões temperadas e nas águas profundas.
Paulo A. Buckup
Departamento de Vertebrados
Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Texto originalmente publicado na CH 315 (junho de 2014). Clique aqui para acessar uma versão resumida da revista.