O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) emplaca 2013 com uma nova carta na manga: a Base cartográfica para o território nacional em escala 1:250.000 (BC250). O nome imponente diz pouco ao comum dos mortais. Mas, em linguagem bem clara, a BC250 é o mais detalhado conjunto de mapas já produzido para representar toda a extensão territorial do país.
Nessa nova escala de mapeamento, 1 cm no papel representa 2,5 km no terreno (por isso se diz que é uma escala de 1:250.000). Avanço expressivo. Em nossa base cartográfica anterior, afinal, 1 cm equivale a 10 km (portanto, uma escala de 1:1.000.000).
Complexo? Breve iniciação à cartografia: quanto menor o denominador, maior a escala; e quanto maior a escala, mais preciso será o mapeamento. Aumentar a escala de um mapa, portanto, significa ‘aumentar o zoom’ na imagem que vemos representada. Temos assim melhores detalhes e informações mais acuradas sobre o terreno.
“O conhecimento aprofundado e preciso do território é indispensável para nortear a atuação governamental”, comenta o engenheiro cartógrafo Marcelo Maranhão, da Coordenação de Cartografia do IBGE. “Por isso a base cartográfica é importante instrumento de planejamento e gestão.”
Os novos mapas trazem diversas categorias temáticas – relevo, hidrografia, vegetação, transportes, energia, saneamento básico, educação, economia. E a cereja do bolo: tudo digitalizado e disponível gratuitamente na página eletrônica do instituto.
Como azulejos
Elaborar uma base cartográfica não é tarefa das mais triviais. Tudo começa com as fontes primárias – que podem ser imagens de satélite ou fotografias aéreas. Para a BC250, foram usadas capturas do satélite estadunidense Landsat 7 (por um lance de sorte, estavam disponíveis na internet gratuitamente no momento da concepção do projeto). “Essas imagens são ideais para mapeamentos em escala 1:250.000, pois as feições do terreno são retratadas em nível de detalhe bastante satisfatório”, explica Maranhão.
E aqui vem um ponto importante: como a superfície da Terra é esférica, toda imagem planificada traz algum grau de distorção geométrica – que precisa ser corrigida. Inicia-se então exaustivo trabalho de campo. Técnicos visitam centenas de localidades, estudam as coordenadas geográficas e as inserem em métodos matemáticos capazes de atenuar distorções da imagem original do satélite.
“Uma vez corrigidas as imprecisões, tem início a interpretação das imagens”, diz o pesquisador do IBGE. Nessa etapa, um time de especialistas analisa as feições do terreno e dá forma final aos mapas que integrarão a base cartográfica. Parece complicado. E é. Especialmente tratando-se de um país com mais de 8 mil km2 de território.
Para cobrir toda essa área, na escala 1:250.000, a equipe teve de elaborar 550 mapas – são folhas que representam no terreno um retângulo de aproximadamente 155 km por 110 km e, se combinadas como azulejos em uma parede, compõem toda a extensão territorial do Brasil.
Estado da arte
Infelizmente, o Brasil ainda não tem um satélite próprio para dar conta de nossas demandas de mapeamento. “Nos últimos anos o IBGE vem usando imagens de satélites estrangeiros, como o SPOT-4, da França, o ALOS, do Japão, o Landsat 7, dos Estados Unidos, e o Rapid-Eye, da Alemanha”, especifica Maranhão.
Apesar dos caminhos e descaminhos do complicado programa espacial brasileiro, a parceria entre Brasil e China para lançar os satélites CBERS parece oxigenar algum otimismo entre a comunidade científica. Se tudo der certo, um novo satélite deverá estar em órbita até o fim de 2013.
A grande maioria dos países tem seus territórios mapeados nas escalas 1:50.000 e 1:100.000. França, Espanha e Portugal já contam com bases completas em escala 1:25.000, lembra Maranhão. Os norte-americanos seguem o mesmo caminho.
Por aquelas bandas eles esquadrinham um audacioso plano: mapear todo o seu território, também em escala 1:25.000, com aerolevantamentos atualizados no mínimo a cada três anos.
No Brasil, mapeamentos de maior precisão são também iniciativas estaduais ou municipais. É o caso de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Sergipe, que já têm seus territórios mapeados em escala 1:10.000 ou 1:25.000. “Essas bases são fundamentais para planejamento de uso do solo, anteprojetos de engenharia, estudos de traçado de rodovias e ferrovias, gestão de recursos hídricos, entre outras aplicações”, enfatiza Maranhão.
Os esforços do IBGE para viabilizar a BC250 vêm de 2007. Uma primeira versão foi concluída em 2012. Em 2013, a equipe deve aparar as últimas arestas e concluir a empreitada – que fará parte de um programa de atualização permanente.
Henrique Kugler
Ciência Hoje/ RJ
Texto originalmente publicado na CH 303 (maio de 2013).