Primeira causa de morte materna no Brasil e uma das principais causas de parto prematuro, a pré-eclâmpsia agora pode ser diagnosticada de forma mais precisa. Utilizando o ecodoppler orbitário – método normalmente empregado para avaliar o fluxo sangüíneo ocular por meio de ultra-som –, foi possível detectar as alterações de fluxo sangüíneo que ocorrem nas pacientes com pré-eclâmpsia, identificando a presença e o estágio da doença, que se manifesta pelo aumento da pressão arterial na gestação e por alterações generalizadas no organismo materno.
A principal descoberta que permitiu ao oftalmologista Alexandre Simões Barbosa, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, utilizar o exame na pré-eclâmpsia foi a constatação de que, ao contrário do que era relatado na literatura, o fluxo sangüíneo ocular em pacientes com pré-eclâmpsia aumenta. “A princípio esperávamos confirmar a redução do fluxo sangüíneo ocular. No entanto, após ter realizado o exame nas primeiras pacientes com pré-eclâmpsia, verificamos que ocorre exatamente o contrário”, explica Barbosa.
A diferenciação entre a pré-eclâmpsia e outras formas de hipertensão arterial durante a gestação, especialmente a hipertensão crônica, é um dos pontos fortes da nova técnica. Muitas vezes a diferenciação entre as duas condições é confirmada apenas após o parto. Além disso, com o estudo, foi possível demonstrar que o aumento do fluxo sangüíneo ocular ocorre antes do aumento da pressão. “Agora é possível distinguir com mais segurança as pacientes com pré-eclâmpsia daquelas com hipertensão crônica”, afirma o pesquisador.
Outras vantagens do novo método são a agilidade no diagnóstico e a possibilidade de acompanhamento da gestante. Antes, o diagnóstico era baseado na medida da pressão e na pesquisa de proteínas na urina – condição conhecida como proteinúria – mas esses procedimentos podem levar mais de um dia e, segundo Barbosa, podem não ser suficientes para o diagnóstico e acompanhamento do progresso da doença. “A agilidade no diagnóstico é muito importante, pois a pré-eclâmpsia pode se desenvolver rapidamente. Uma gestante que apresente a forma leve da doença pode desenvolver sua forma mais grave a qualquer momento. O comportamento da doença é imprevisível”, enfatiza.
A dopplerfluxometria das artérias oftálmicas, como o exame é chamado, é um procedimento simples, não invasivo, e pode ser repetido quantas vezes forem necessárias sem riscos para a paciente. Um aparelho é colocado sobre os olhos da paciente, produzindo imagens do globo ocular e dos vasos sangüíneos que permitem a obtenção dos chamados parâmetros de fluxo. Os resultados são obtidos durante a execução do exame.
A pré-eclâmpsia, em geral, causa nas gestantes dores de cabeça, alterações visuais como flashes luminosos e diminuição da visão, tontura e vômitos, entre outros sintomas, mas pode provocar também convulsões, acidente vascular cerebral e até a morte. Nos bebês, ela provoca o chamado sofrimento fetal – causado principalmente pela deficiência da placenta em suprir o feto – e pode levar ao baixo peso no nascimento e à prematuridade.
Mariana Ferraz
Ciência Hoje/RJ