Jonas da Rosa Gonçalves, graduando em ciências biológicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, estudou um grupo de bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) em mata localizada em um aglomerado urbano no distrito de Itapuã, em Viamão (RS). A espécie está ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul.
O grande número de moradores e turistas que fornecem alimento aos bugios tornou o animal mais tolerante ao homem e intensificou as relações entre eles. “À primeira vista, a consequência parece positiva”, avalia Gonçalves, que foi orientado na pesquisa pelo biólogo Júlio César Bicca-Marques, do Laboratório de Primatologia da Faculdade de Biociências.
Em longo prazo, porém, explica o estudante, essa relação próxima pode prejudicar os animais, pois os deixa mais vulneráveis à caça e os expõe mais a agentes patogênicos que afetam a espécie humana.
Em 2009, um surto de febre-amarela que atingiu populações de bugios-ruivos e bugios-pretos (Alouatta caraya) no Rio Grande do Sul causou a morte de vários animais. Alguns morreram da doença, outros foram caçados e exterminados pela população desinformada.
Mudança de hábito
Ao longo de 61 dias de coleta de dados, totalizando quase 900 horas de observação, Gonçalves avaliou a dieta, o padrão de atividades diárias e as relações sociais de seis bugios. Os eventos de suplementação alimentar realizados pelos moradores também foram avaliados para verificar o grau de contato entre eles e os animais.
Boa parte dos registros feitos pelo estudante diz respeito ao comportamento alimentar. “Os bugios se habituaram tanto ao alimento fornecido pelos humanos, que às vezes esperavam recebê-lo em vez de buscá-lo no meio ambiente”, conta Gonçalves. Os bugios eram alimentados duas vezes por dia em média, com banana, frutos, bolos, pão caseiro, biscoitos e aipim cozido.
Os bugios apresentam a mais ampla distribuição geográfica entre os primatas, difundindo-se do México à Argentina. Muito conhecidos por sua vocalização típica e por sua ‘barba’ peculiar, têm pelagem de cor variada, que vai do preto a tons mais avermelhados.
A carne do animal era muito apreciada pelos índios, que o caçavam com facilidade por causa de sua lentidão para escapar das flechas. Antes, era o homem que esperava pelo alimento; e não o contrário, como acontece agora.
Luan Galani
Especial para Ciência Hoje / PR
Texto originalmente publicado na CH 276 (novembro/2010).