Pelo menos sete brasileiros morrem a cada dia devido a doenças associadas ao fumo passivo de tabaco. A revelação foi feita por um estudo conjunto do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgado em agosto último.

Segundo os resultados preliminares do trabalho, 2.655 pessoas que não fumam morrem anualmente em conseqüência de câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração (como infarto) e acidentes vasculares cerebrais (AVC), as três principais doenças relacionadas ao tabagismo passivo. Desse total, 60,3% são mulheres. Esse estudo fortalece a implementação do artigo oitavo da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, o primeiro tratado internacional de saúde pública, e serve como mais um suporte científico para a legislação que abole o fumo em ambientes fechados.

Parte do Programa Nacional de Controle de Tabagismo, que busca inibir a iniciação ao fumo e promover sua supressão, o estudo se limitou às três principais doenças associadas com essa atividade. “Nossa análise abrangeu apenas esses males porque consideramos somente a mortalidade”, explica um dos autores do trabalho, o epidemiologista Antonio José Leal Costa, do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ.

Ele diz que há outras doenças que acometem os fumantes passivos, como asma brônquica e bronquite, comuns em crianças, mas, para levá-las em conta, o escopo da pesquisa teria de ser ampliado para incluir dados de morbidade (taxa de indivíduos doentes em um dado grupo e durante um período determinado).

Embora os resultados preliminares abordem apenas a exposição à fumaça ambiental do tabaco em domicílios localizados em capitais, o estudo também coletou informações sobre ambientes de trabalho. “É provável que, se abrangêssemos outras regiões dos estados ou incluíssemos áreas rurais, o número de mortos seria maior”, afirma a assistente social Érica Cavalcanti, da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, lembrando que três cigarros consumidos por um fumante equivalem ao efeito de um cigarro para um não-fumante exposto à fumaça.

Locais fechados
Para chegar ao resultado publicado, os pesquisadores combinaram dados do período de 2002 a 2004 do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde; do Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, pesquisa realizada em 2003 pelo Inca e pela Secretaria de Vigilância em Saúde; e de três estudos internacionais que determinavam o risco relativo de morte de não-fumantes expostos ao tabagismo passivo em relação aos não expostos.

“A análise restringiu-se a indivíduos de 35 anos ou mais que conviviam com pelo menos um fumante em casa. Essa idade foi escolhida, porque as doenças consideradas no estudo dependem de uma exposição cumulativa à fumaça”, esclarece Cavalcanti.

Segundo Costa, a maior incidência de mortes é entre mulheres que convivem com homens fumantes. “Se estivéssemos considerando o hábito de fumar, em vez do tabagismo passivo, esse cenário se inverteria”, afirma. Para Cavalcanti, o estudo corrobora a noção de que não há níveis seguros de exposição. “Embora as doenças principais demorem a aparecer, certas substâncias cancerígenas, como a nitrosamina NNK, presentes na fumaça do cigarro, já são detectadas na urina de não-fumantes logo após a primeira exposição”, revela a assistente social.

O objetivo agora é usar o estudo para embasar uma lei federal que proíba completamente o fumo em locais fechados. “Alguns estados, como Rio de Janeiro, Paraíba e São Paulo, saíram na frente com legislações próprias para esse fim”, observa Cavalcanti. Costa informa que, apesar de esses locais já possuírem áreas restritas para fumantes, a fumaça não necessariamente ‘respeita’ esses limites e os que aí trabalham são expostos a ela involuntariamente.

“Esses profissionais seriam os mais beneficiados por uma proibição total do tabagismo, pois, mesmo que um garçom não fume, ele ainda tem que servir clientes na área de fumantes”, ressalta o epidemiologista. Segundo ele, a análise dos dados referentes a ambientes de trabalho deve estar concluída em dois meses.

Fred Furtado
Ciência Hoje / RJ

 

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