A pergunta é bem interessante e permite discutir alguns pontos. A seleção natural não é um processo que necessariamente leva à extinção das espécies. Na verdade, ela busca explicar a mudança na frequência de determinadas características dentro de uma população. Ou seja, mais do que levar à extinção de uma espécie, a seleção natural fará com que a proporção de atributos que refletem uma melhor adaptação ao meio aumente em uma população. A extinção de uma espécie ocorrerá, portanto, caso uma população não tenha indivíduos com atributos mínimos para garantir sua permanência frente às diversas imposições do ambiente.
Certamente, a predação é uma dessas imposições, mas não a única. Assim, a seleção natural reflete o balanço geral de todas as variáveis que afetam a sobrevivência e reprodução dos organismos.
De qualquer maneira, predar um bicho-preguiça pode não ser tão fácil quanto parece. Pelo menos, não para seus predadores naturais, como a onça-pintada e o gavião-real. O bicho-preguiça passa a maior parte do dia dormindo no alto das árvores e desce apenas para ‘usar o banheiro’. Além de seus movimentos lentos, a coloração de seus pelos ajuda bastante na sua camuflagem nas matas. Um predador poderia, assim, se distrair facilmente com outras presas mais ativas na mata, como um macaco, uma anta ou um gambá.
Nesse sentido, um bicho-preguiça pode ser ‘lento’ o suficiente para se tornar imperceptível por seus predadores. A seleção natural atuaria, portanto, em duas vias: selecionando as populações de predadores cada vez mais ‘espertas’, assim como as populações de preguiças mais ‘disfarçadas’ no meio.
Caso um bicho-preguiça seja capturado por um de seus predadores, ele também poderá tentar usar suas garras para se defender; apesar de elas serem usadas, principalmente, para se pendurar nos galhos das árvores. Vale lembrar, porém, que muitas preguiças foram extintas ou estão em risco de extinção pela ação do homem, sua principal ameaça atualmente. De acordo com a lista de espécies ameaçadas de extinção produzida pelo Ministério do Meio Ambiente, a espécie Bradypus torquatus (preguiça-de-coleira) é considerada “vulnerável à extinção”.
Aliny P. F. Pires
Departamento de Ecologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro