No famoso filme Alien, o oitavo passageiro (1979), de Ridley Scott, astronautas enfrentam um organismo alienígena com um ciclo de vida aterrorizante: ainda em estágio larval, ele é inserido no corpo de um humano, do qual se alimenta durante algum tempo, até emergir, rompendo o abdômen do hospedeiro e causando a morte deste. Embora assustador, tal comportamento está longe de ser ficção científica. Essa estratégia de vida é utilizada por um grupo muito comum de insetos terrestres: os parasitoides, misto de parasita e predador.
Um parasitoide geralmente não se alimenta de outros organismos na fase adulta, mas apenas de açúcares e pólen. A fêmea fecundada coloca seus ovos ou larvas, perto, sobre ou dentro dos hospedeiros – quase sempre outros insetos, mas também aranhas e pequenos crustáceos sem carapaças (do grupo Isopoda). Os hospedeiros, na maioria das vezes, estão em estágio pré-adulto (ovo, larva, ninfa ou pupa).
As larvas dos parasitoides comumente crescem dentro do hospedeiro (endoparasitoides) – em alguns casos, sobre estes (ectoparasitoides) – e usam os tecidos deste como alimento, mas sem matá-los de imediato. Após certo tempo, essas larvas matam o hospedeiro, tornam-se pupas, passam por metamorfose e emergem como adultos aptos para reprodução. Os adultos vão encontrar um indivíduo do sexo oposto para copular, iniciando novamente o ciclo de vida.
A diversidade de parasitoides é enorme. Há cerca de 150 mil espécies descritas, um décimo dos insetos conhecidos. A maioria dos insetos desse tipo (78%) está distribuída em diversas famílias da ordem dos himenópteros – são vespas de tamanho corporal reduzido, em geral com alguns milímetros de comprimento. Outros (cerca de 20%) pertencem à ordem dos dípteros (moscas) e são representados principalmente por espécies da família dos taquinídeos. Além disso, besouros da família dos estafilinídeos também apresentam essa estratégia de vida.
Os endoparasitoides apresentam uma relação fisiológica muito estreita com seus hospedeiros, controlando o metabolismo destes de maneira bastante sofisticada. As substâncias liberadas por esses insetos dentro do organismo atacado alteram muitos processos, desde funções hormonais e mecanismos de defesa até a taxa metabólica, a composição da hemolinfa (o ‘sangue’ dos insetos), a excreção e o desenvolvimento de estruturas reprodutivas.
Presas ativas ou paralisadas
Em muitos casos, o ataque do parasitoide ocorre quando o hospedeiro ainda é muito pequeno, com um suprimento de nutrientes insuficiente para o desenvolvimento de seu algoz. Por isso, muitos parasitoides, chamados de coinobiontes, permitem que os hospedeiros continuem ativos e estimulam sua alimentação para suprir as próprias necessidades nutricionais.
Esse fenômeno é muito comum nas espécies gregárias, que introduzem ou depositam várias larvas no mesmo hospedeiro (o termo koino, do grego, significa ‘comum’). Nesse caso, o número de ‘invasores’ que chega à fase adulta depende da intensidade da alimentação do hospedeiro.
No caso dos parasitoides solitários, a mobilidade e alimentação (e, portanto, o crescimento) dos hospedeiros são inibidas por substâncias paralisantes geralmente inoculadas durante a postura de seus ovos. A paralisia do hospedeiro reduz sua capacidade de defesa e de retirada de nutrientes da hemolinfa, beneficiando o ‘hóspede’, chamado nesse caso idiobionte (idio, do grego, significa ‘único’). Além disso, ao deixar de procurar alimento, o organismo invadido reduz sua exposição a outros predadores, cujo ataque mataria também o endoparasitoide.
No entanto, nem sempre um parasitoide solitário paralisa seu hospedeiro. A espécie Psyllaephagus baccharidis, himenóptero da família dos encirtídeos, é uma das exceções a essa regra. Ela ataca as ninfas do inseto Baccharopelma dracunculifoliae, da família dos psilídeos (Psyllaephagus significa ‘comedor de psilídeos’), que suga a seiva e induz a formação de galhas – um tipo de tumor de planta (ver ‘As galhas: tumores de plantas’, em CH nº 19) – no alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia).
O parasitoide localiza as galhas ainda pequenas e, com seu aparelho ovopositor, põe seus ovos junto às ninfas que lá se desenvolvem. Cada larva do invasor se desenvolve dentro de uma ninfa e a estimula a se alimentar mais. Após determinado período, que varia de um a quatro meses, o parasitoide devora os tecidos do hospedeiro e usa o envoltório externo deste (a cutícula) como pupa, um processo denominado mumificação. Após a metamorfose, P. baccharidis sai da pupa dentro da galha, escava um túnel através da parede desta e emerge.
O estímulo do parasitoide à alimentação das ninfas causa um aumento indireto do tamanho da galha, o que drena mais energia da planta. Além disso, caso haja ninfas sadias ao lado de ninfas parasitadas na mesma galha, as primeiras também atingem maior tamanho corporal e podem tornar-se adultos de maior sucesso reprodutivo.
De forma geral, parasitoides coinobiontes são benéficos para as plantas, como o alecrim-do-campo, já que regulam a população de insetos herbívoros. Por outro lado, podem causar certo grau de prejuízo à planta, porque os danos causados pelos herbívoros parasitados e estimulados podem ser maiores que os dos herbívoros sadios. Entretanto, como veremos a seguir, a grande maioria dos parasitoides pode ser utilizada de forma benéfica pelo homem.
Mário Marcos do Espírito Santo
Maurício Lopes Faria
Departamento de Biologia Geral
Universidade Estadual de Montes Claros (MG)
Jhonathan Oliveira Silva
Departamento de Ecologia
Universidade de Brasília
Karla Nunes Oliveira
Departamento de Biologia Geral
Universidade Federal de Viçosa (MG)
Geraldo Wilson Fernandes
Departamento de Biologia Geral
Universidade Federal de Minas Gerais