(Foto: Luiz Baltar)

Além de reduzir o colesterol, a soja pode ser um fator de prevenção contra problemas cardiovasculares e aumentar a resistência cardíaca. Ratos que foram alimentados com a proteína isolada da soja resistiram mais ao infarto e tiveram melhor desempenho no bombeamento sangüíneo. O resultado da tese de doutorado da nutricionista Martine Kienzle Hagen, desenvolvida no departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostrou a ação positiva da soja em casos de pós-infarto que fatalmente levariam o indivíduo a um quadro de insuficiência cardíaca. A função ventricular (movimento cardíaco de contração e relaxamento) ficou menos debilitada com o auxílio desse alimento, que diminuiu os efeitos da isquemia cardíaca.

Esse benefício vem sendo relacionado à presença de isoflavonas na soja, embora não se saiba ainda se é somente a isoflavona ou o conjunto de nutrientes da soja que, juntos, apresentam seu efeito potencializado. Alguns estudos demonstraram que a ingestão do alimento por completo é mais eficaz na prevenção de doenças. No caso da pesquisa, constatou-se que, em testes in vitro , tanto a proteína isolada quanto o gérmen de soja apresentaram efeito antioxidante, combatendo radicais livres danosos ao organismo.

Após os testes in vitro , a nutricionista separou ratos de laboratório, com 21 dias de idade, em dois grupos: o primeiro foi alimentado com proteína isolada de soja e o outro com uma ração à base de proteína do leite, a caseína. Quando completaram dois meses, os ratos foram submetidos a uma cirurgia que provocaria neles um infarto, ou seja, uma de suas artérias coronárias foi obstruída. Muitos não resistiram ao procedimento, apesar das tentativas de reanimação. Dos dois grupos, sobreviveram mais indivíduos do grupo alimentado com a soja do que com a caseína.

Após um mês, com a ajuda de um cateter, a pressão intraventricular e da artéria aorta dos ratos sobreviventes foi medida. Nos ratos alimentados com a soja, o bombeamento e o relaxamento do coração apresentavam-se mais preservados. Já os que foram nutridos com caseína tinham pior desempenho cardiovascular e maior acúmulo de gordura na região abdominal. “Os animais alimentados com caseína estavam bem mais gordos do que os alimentados com a proteína de soja. Isso pode significar uma notícia muito boa: o consumo da soja para fins dietéticos, pois o alimento diminuiria o depósito de gordura na região abdominal”, afirma Hagen.

Por fim, quando os animais foram sacrificados, a equipe percebeu que os ratos alimentados com ração à base de caseína tiveram problemas sérios, como o aumento do coração, causado pelo maior esforço para dar conta do bombeamento do sangue. “Após o infarto, ocorre morte das células cardíacas afetadas pela isquemia (redução ou suspensão da irrigação sangüínea em um órgão) e, com o passar do tempo, se instala a insuficiência cardíaca, uma síndrome clínica com comprometimento de múltiplos órgãos, manifestando sintomas como fadiga, dispnéia, diminuição de força muscular e edema de órgãos como pulmão e fígado”, explica Hagen. Os animais tratados com a ração à base de caseína apresentaram insuficiência cardíaca severa nos dois grupos infartados, tanto os que apresentavam pequenas áreas infartadas (inferior a 25% do total do ventrículo esquerdo), como os que apresentavam grandes áreas infartadas (superior a 25% do total do ventrículo esquerdo). Já entre os animais nutridos com a proteína da soja, os problemas só começavam a aparecer no contingente que apresentava área infartada superior a 25%. Isso ilustra o papel de resistência que a soja desempenhou nos ratos que a consumiam.

A pesquisadora lembra ainda que, além dos benefícios citados, a soja tem a propriedade de amenizar os sintomas da menopausa. “Há estudos que mostram que as mulheres orientais, que têm o hábito de consumir soja como fonte de proteína, não costumam sofrer os sintomas da menopausa ou da tensão pré-menstrual (TPM), como a depressão ou o fogacho.” Esse efeito é atribuído à presença da isoflavona, que possui estrutura química semelhante à do estrógeno (hormônio feminino) e, por isso, é capaz de aliviar os males da menopausa e da TPM.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje/RJ

 

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