Objetos feitos com a porcelana de ossos bovinos nacional. (Fotos: Ricardo Miyahara)

Fórmula inovadora de porcelana feita com cinzas de ossos promete substituir o material convencional utilizado em implantes ósseos e odontológicos. A nova porcelana, desenvolvida com matérias-primas totalmente brasileiras, é mais branca, leve e resistente que a regular, além de apresentar maior grau de compatibilidade biológica. Composto de 50% de cinzas de ossos bovinos, 20% de caulim (minério branco usado em cerâmica para fins plásticos) e 30% de feldspato, o material foi resultado da pesquisa do físico Ricardo Miyahara, em tese de doutorado para a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

A porcelana comum resulta de um processo cerâmico triaxial, ou seja, é formada por três elementos: argila, feldspato e quartzo. A argila, fundamental para a produção de cerâmica, combina-se com o feldspato, que é transformado em vidro quando submetido a altas temperaturas e tem a propriedade de reduzir o ponto de fusão do quartzo quando misturado a ele, além de dar mais resistência ao material.

Já a porcelana desenvolvida por Miyahara retoma a técnica surgida na Inglaterra no século 18, que utiliza cinzas de ossos e caulim acrescidos de cornish stone , minério da família do feldspato detentor de propriedades adesivas. “Devido à elevada proporção de ossos, o custo é alto para a obtenção das cinzas de ossos, mas a porcelana resulta mais alva e resistente”, diz o físico. A diferença entre a tradicional fórmula inglesa e a porcelana brasileira é a maneira de produção. Substituindo o cornish stone pelo feldspato nacional, o pesquisador chegou a uma nova proporção que se funde à temperatura de 1.270°C, em comparação com os 1.400°C necessários para a queima da porcelana comum.

“Essa redução da temperatura de queima representa um menor gasto na produção do material, uma vez que o processo de queima pode chegar a 40% do custo do produto. A porcelana adquire maior valor agregado por ser um produto de excelente qualidade, chegando a ser quase duas vezes mais resistente que a comum e mais branca que a porcelana de ossos inglesa”, esclarece Miyahara.

Ossos bovinos após o tratamento para obter a cinza, que, misturada ao caulim e ao feldspato, é utilizada para a fabricação da porcelana.

Biocompatibilidade
O novo composto, quando aplicado em material cirúrgico, como implantes ósseos e odontológicos, apresenta uma vantagem adicional. As cinzas de ossos utilizadas na fórmula contribuem para a pouca rejeição corporal ao objeto inserido, devido à presença da hidroxiapatita, minério encontrado na natureza e, portanto, biocompatível. Esse potencial para bioimplantes solucionaria a rejeição a materiais como a platina, atualmente aplicada na fixação de dentes e em implantes ortopédicos.

De acordo com Miyahara, a descoberta tem grandes chances de conquistar o mercado de implantes. O estudo está em fase de testes finais para que possa ser encaminhado para avaliação industrial, quando será analisada a viabilidade de produção da porcelana de ossos em larga escala. A possibilidade de o Brasil produzi-la, deixando de importar o produto da Inglaterra, China e Estados Unidos, únicos países produtores expressivos de porcelana, significaria um nicho de mercado promissor. “Como o Brasil é um dos maiores criadores de gado bovino do mundo e tem grande tradição na fabricação de produtos cerâmicos, temos condições de produzir essa porcelana em grande quantidade, podendo até nos tornar um grande exportador do material”, conclui Miyahara.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje/RJ

 

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