Pergunta enviada por Ofélia dos Reis, por correio eletrônico.
Sócrates permanece para nós um enigma. Tudo o que supomos saber a seu respeito se baseia em representações deixadas por seguidores e por adversários. Convertido em mito ainda em vida, o filósofo que vivera na Atenas do século 5 a.C. foi retratado como o homem mais virtuoso e sábio de seu tempo, mas também como um destruidor da moral e corruptor de jovens.
As imagens que temos de Sócrates são, então, diversas e, frequentemente, conflitantes. Esse fato gerou um problema inextricável: a chamada questão socrática, que busca saber quem foi e o que ensinou o verdadeiro Sócrates.
As respostas à questão socrática são as mais diferentes. Uma delas é a implausível tese do estudioso belga Eugène Dupréel (1879-1967), segundo a qual Sócrates não passa de uma “ficção literária”. A vida, o ensinamento e a morte de Sócrates seriam uma lenda criada pelos socráticos – e o principal deles era Platão – para concorrer com as obras dos sofistas, das quais os seguidores de Sócrates tomaram numerosos empréstimos.
Essa interpretação recebeu mais reação que adesão. De fato, apesar de todas as discordâncias, as fontes antigas jamais negaram ter Sócrates existido no tempo e no espaço.
Seja como for, no que concerne a Sócrates, somos obrigados a lidar com lendas. Por isso, vários comentadores acham inútil a procura pelo Sócrates real. Muitos outros, porém, ainda acreditam ser possível, em certa medida, o conhecimento do Sócrates histórico, e Platão tem sido privilegiado como biógrafo e intérprete do filósofo ateniense.
José Lourenço Pereira da Silva
Departamento de Filosofia
Universidade Federal de Santa Maria (RS)
Texto originalmente publicado na CH 303 (maio de 2013).
Texto originalmente publicado na CH 303 (maio de 2013).