Um terço dos casais entre os albatrozes-de-laysan, que vivem no arquipélago do Havaí, são formados por fêmeas. E esse é só um dos milhares de casos documentados sobre relacionamentos entre indivíduos do mesmo sexo no reino animal. Nesse caso, a pergunta central é: por que se engajar nesse tipo de comportamento se ele não leva à reprodução? Há respostas e teorias a granel. Agora, uma nova.
O diferencial da pesquisa foi buscar não a origem desse misterioso comportamento, mas sim se essas interações homossexuais têm (ou não) consequências evolucionárias para as populações ou espécies que as praticam.
Assim, a dupla Nathan Bailey e Marele Zuk, da Universidade da Califórnia, em Riverside (Estados Unidos), examinou vários estudos sobre comportamento homossexual. Exemplos em que esse comportamento tem potencialmente força para moldar a seleção de outras características: i) como tática para treinar a corte; ii) estratégia de cooperação para a criação de filhotes; iii) forma de estreitar laços da comunidade; iv) como mediador de conflitos.
Segundo os autores, quando esse tipo de flexibilidade é estabelecido, ele passa a ter consequências evolucionárias importantes por mudar a dinâmica social da população, podendo direcionar a evolução em aspectos relacionados à fisiologia, à história de vida dos espécimes, ao comportamento social e até à morfologia.
Ah, sim, segundo Bailey e Zuk, as fêmeas dos albatrozes-de-laysan se juntam porque assim as chances de obter sucesso na criação dos filhotes são mais altas quando comparadas àquelas de uma fêmea sozinha. Essa união poderia ter importantes consequências evolucionárias em função de alterar a dinâmica social nas populações.
Em tempo: Bailey e Zuk alertam para o fato de muitos resultados obtidos com o estudo de animais terem sido citados na mídia em relação aos direitos civis dos homossexuais. “É crucial que as contribuições científicas de estudos com animais lancem mais luz do que calor sobre esse tópico. Portanto, é útil definir direções promissoras para futuros trabalhos científicos e identificar fontes de equívocos à medida que essa área ganha maturidade”, diz Bailey.
O estudo foi publicado na edição eletrônica do periódico Trends in Ecology and Evolution.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje / RJ