Uma cadeira de rodas movida por sinais cerebrais. Esse é o objetivo de um grupo de pesquisadores que busca maneiras de ajudar pessoas com grandes limitações de movimento. E eles estão bem próximos de chegar lá. O último modelo desenvolvido reconheceu corretamente as ondas emitidas pelo cérebro em 90% dos testes. Porém, como se trata de um produto que gera muita expectativa e no qual a segurança é requisito fundamental, os cientistas precisam superar os 10% de erro (e outros desafios) antes de lançá-lo no mercado.

Movida pela ‘imaginação motora’, a cadeira tem acoplado um sistema que capta as ondas geradas pela intenção do movimento das mãos de pessoas com deficiência (foto: Teodiano Freire Bastos).

O princípio que movimenta a cadeira de rodas é conhecido pelos neurocientistas há tempos: chama-se imaginação motora. “Quando uma pessoa pensa em um movimento dos membros inferiores (mãos, pernas ou pés), gera sinais no cérebro mesmo que não concretize a intenção. Esses sinais podem ser captados e transmitidos para um computador que os interpreta”, explica o engenheiro Teodiano Freire Bastos, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Bastos coordena as pesquisas para construção da cadeira de rodas, iniciadas há três anos. Ele conta que no princípio testaram mecanismos baseados no movimento da cabeça, do globo ocular e do piscar de olhos. “Mas esses métodos não poderiam ser aplicados a pessoas com limitações severas, como os portadores de esclerose lateral amiotrófica, que em estágio avançado não conseguem nem piscar os olhos”, diz o engenheiro.

O grupo começou a busca por soluções e chegou a um mecanismo de movimentação baseado na diferença entre as ondas cerebrais emitidas em estado de alerta e relaxamento. A cadeira criada nessa etapa do projeto tinha, acoplado a ela, um pequeno computador cuja tela mostrava à pessoa sentada ícones (setas) com os movimentos possíveis – para frente, para trás etc.

O sistema ‘varria’ esses ícones constantemente, sempre destacando o ícone ativo. Quando a seta destacada correspondesse ao movimento que a pessoa queria fazer, ela entrava no estado de relaxamento. As ondas cerebrais emitidas eram captadas pelo computador e a cadeira se movia. “O problema foi que descobrimos que o estado de relaxamento a que a pessoa precisava chegar só era atingido quando ela fechava os olhos.”

Foi aí que os pesquisadores pensaram no modelo que capta as ondas emitidas pela imaginação motora. Nesse sistema, são as ondas geradas pela intenção do movimento das mãos que move a cadeira: se a pessoa quer ir para a direita, pensa em abrir e fechar a mão direita; se quer ir para a esquerda, faz o mesmo com a mão esquerda; se quer ir para frente, pensa nos dois movimentos seguidos e se quer parar basta não pensar em nenhuma das opções.

90% de eficiência
Até o momento a cadeira com esse mecanismo mostrou-se eficiente em cerca de 90% dos testes, feitos apenas com pessoas sem deficiência. “Começamos com pessoas sem deficiência, porque, caso o sistema não funcionasse, a frustração nos deficientes seria muito grande. Mas em junho começamos os testes em voluntários com paralisias”, comemora Bastos.

A frustração, no entanto, pode ser a nova ferramenta a favor dos pesquisadores. O grupo acredita ser possível usar as ondas cerebrais geradas por essa sensação para corrigir as falhas da cadeira. “Se a pessoa quer ir para a esquerda e a cadeira vai para a direita, a pessoa naturalmente fica frustrada e ativa uma área do cérebro específica. A idéia é usarmos as ondas geradas nessa situação para corrigir o movimento. É como se a cadeira ‘entendesse’ que fez algo errado.”

Mas essa é uma conquista distante e há ainda outras limitações a serem vencidas. Segundo Bastos até agora o sistema é muito personalizado, o que dificulta a comercialização. Além disso, o estudo de processos que geram sinais cerebrais ainda precisa avançar. “Precisamos saber o que interfere na intensidade dos sinais. Por exemplo, qual a interferência do estado emocional da pessoa ou do cansaço acumulado ao longo do dia? Esses aspectos devem ser mais bem estudados”, finaliza.

Mariana Ferraz
Ciência Hoje / RJ

 

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