Pergunta enviada por Paulo Freitas, de Resende/ RJ.
Essa câmara é uma sala especial, com paredes metálicas, isolada do exterior e revestida com materiais (lã de vidro, espumas plásticas e outros) de alto nível de absorção de sons. Esse revestimento interno garante isolamento sonoro de quase 100% e ausência absoluta de reflexões das ondas sonoras – portanto, o silêncio é o maior possível.
Essa sala é usada para testar equipamentos acústicos, como microfones e alto-falantes, para avaliar o nível de ruído de máquinas e aparelhos (produtos automotivos, eletrodomésticos, médico-hospitalares e de outros setores) e para estudos científicos.
Estar sozinho em uma sala anecoica é de fato uma experiência única. A audição humana capta a imensa multiplicidade de sons e os mínimos detalhes sonoros de qualquer ambiente, incluindo pequenas reflexões dos sons. O cérebro processa essas informações a todo instante, de modo inconsciente, e elas contribuem para a autolocalização horizontal e vertical e para a determinação de características ambientais.
Visão e audição são responsáveis pelo senso de equilíbrio. Os cegos, como já mostraram experimentos, tendem a perder o equilíbrio em uma sala anecoica.
As pessoas logo percebem que se trata de uma experiência não natural, mas a suscetibilidade é diferente para cada um. Após um ‘choque’ inicial, podem-se ouvir as batidas do próprio coração, o sangue se movendo nos vasos e o ar entrando e saindo dos pulmões. Com maior tempo de adaptação, nota-se um ruído agudo, originado provavelmente da vibração dos tímpanos causada por sons corporais (ou seja, o limiar de audibilidade baixa ao nível de ruído de fundo da câmara anecoica).
Assim, acredita-se que a ausência de referências sonoras, durante prolongada permanência em uma câmara anecoica, pode desorientar pessoas mais suscetíveis.
Gilmar M. Ximenes
Divisão de Metrologia em Acústica e Vibrações (Diavi)
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)
Texto originalmente publicado na CH 301 (março de 2013).