Nascido em Klushino, Rússia, parte da então União Soviética, Yuri Alekseevich Gagarin começou a trabalhar como fundidor em uma metalúrgica. Depois, enquanto cursava o ensino secundário técnico, aprendeu a pilotar aviões leves. Ao concluir o curso, ingressou em uma escola de pilotos para treinamento de voo militar. Tornou-se piloto em 1957 e dois anos depois recebeu a patente de tenente sênior.
Em 1960 foi um dos 20 pilotos selecionados para participar do programa espacial soviético. Devido ao seu excelente desempenho nos treinos e testes, a sua baixa estatura (1,57 m) e a sua origem camponesa, foi escolhido para ser o primeiro homem a ir ao espaço. Gherman Titov (1935-2000) era seu primeiro reserva.
Em 12 de abril de 1961, Gagarin estava a bordo da espaçonave Vostok 1, lançada de uma plataforma em Baikonur, no Cazaquistão, por um foguete Soyuz. Durante o voo, que durou 108 minutos, completou uma órbita ao redor da Terra, viajando a uma velocidade aproximada de 27 mil km/h. Na descida, foi ejetado da nave quando estava a 7 km de altura e chegou ao solo suavemente, com o auxílio de paraquedas.
Com 4,4 m de comprimento, 2,4 m de diâmetro e pesando 4.730 kg, a espaçonave possuía dois módulos: o módulo de equipamentos (com instrumentos, antenas, tanques e combustível para os retrofoguetes) e a cápsula onde ficou o cosmonauta. Essa cápsula previa a acomodação, em assento ejetável, de um ocupante em traje pressurizado.
A nave tinha duas janelas: uma sobre a cabeça do cosmonauta e a outra próxima do visor de seu capacete. Perto de seus pés havia um visor óptico para ser utilizado como dispositivo de orientação.
- Yuri Gagarin algumas horas após o pouso da espaçonave Vostok 1. O voo durou 108 minutos, a uma velocidade aproximada de 27 mil km/h, completando uma órbita ao redor da Terra. (foto: Pravda.ru)
Em órbita, Gagarin fez algumas anotações em seu diário de bordo. Porém, ao usá-lo em um experimento de baixa gravidade, o diário flutuou e voltou para ele sem o lápis, que estava conectado ao livro por uma mola. A partir de então, todos os registros tiveram que ser feitos por meio de um gravador de voz. Como ele era ativado por som, a fita ficou logo cheia, pois muitas vezes o equipamento era ativado pelos ruídos na cápsula.
O mecanismo de frenagem da nave deveria funcionar por 40 segundos, o que a recolocaria na atmosfera. Mas Gagarin anotou em um relatório:
“Logo que o mecanismo de frenagem parou, houve um brusco solavanco. A nave começou a girar ao redor de seu eixo em alta velocidade. A Terra passava no visor de cima para baixo e da direita para a esquerda. A velocidade de rotação era de aproximadamente 30 graus por segundo. Tudo girava. Em um momento vi a África; em outro, o horizonte; no seguinte, o céu. Não tinha tempo de fazer sombra para me proteger do Sol. Coloquei minhas pernas na direção da janela (de baixo) e não fechei as cortinas. Queria descobrir o que estava acontecendo.”
A separação entre a cápsula de reentrada e o módulo deveria ocorrer entre 10 e 12 segundos após entrar na atmosfera. Como isso não aconteceu, a nave ficou capotando, desgovernada. Gagarin informou que a separação não se deu, mas que estava tudo bem. Considerou que aquela não era uma situação de emergência e que o pouso seria seguro. A separação atrasou 10 minutos.
A partir de então ele observou que a luminosidade vermelha incandescente atrás de suas janelas – já esperada – era assustadora. A imagem era acompanhada dos ruídos das rachaduras das camadas de proteção térmica, que se queimavam no calor da reentrada na atmosfera. A temperatura externa do módulo era de aproximadamente mil graus Celsius.
Biotelemetria
Gagarin foi o primeiro ser humano a ver a Terra do espaço. Pôde vê-la como um todo e, entre as observações que fez, uma é marcante. Impressionado com o que via, afirmou: “A Terra é azul!”
Embora tenha durado apenas 108 minutos, o voo mostrou que o homem podia suportar os rigores da decolagem, da reentrada na atmosfera e da ausência de peso. Durante toda a viagem Gagarin esteve sob contínuo monitoramento e supervisão médica.
Além de estarem atentos aos relatos periódicos de como o cosmonauta se sentia, os médicos acompanhavam os dados de sua pulsação e respiração, que eram transmitidos constantemente por radiotelemetria. Surgia, assim, um novo ramo da ciência, a biotelemetria, que uniu os mais avançados conhecimentos da medicina e da radioeletrônica da época.
Na roupa que o cosmonauta usou sob o traje de voo foram instalados instrumentos simples e convenientes que convertiam parâmetros fisiológicos em sinais elétricos. A transmissão de impulsos via canais de rádio durante todos os estágios da viagem era garantida por sistemas especiais de medidas e amplificadores.
Durante o voo, Gagarin se alimentou e tomou água, mantendo contato contínuo com a Terra por rádio, em diferentes canais, telefone e telégrafo. Além de enviar relatos à Terra, registrou dados e observações no diário de bordo e no gravador. Num dos relatos disse que, após a injeção em órbita, pôde constatar a falta de gravidade. No início, sentiu certo desconforto, mas isso não durou muito, tendo se habituado logo àquela sensação.
Othon Winter*
Grupo de Dinâmica Orbital e Planetologia
Universidade Estadual Paulista (campus de Guaratinguetá)
*Colaborou Bruno Giuliatti Winter