O que mantém a estabilidade do material genético de geração em geração? Por cerca de 60 anos, a ciência buscou a resposta para essa pergunta aparentemente simples, mas com importantes conseqüências. Ela foi encontrada na extremidade dos cromossomos, em um trecho de DNA que pode ser comparado à fita plástica que sela as pontas dos cadarços de um sapato. Esse trecho, que ganhou o nome de telômero, tornou-se desde sua descoberta o foco de atenção de uma das áreas mais instigantes da pesquisa biológica.
Todo o material genético contido no núcleo de uma célula, seja de um organismo unicelular (como protozoários e vários fungos e algas) ou multicelular (como insetos, plantas, répteis, mamíferos e outros), está compactado em estruturas denominadas cromossomos, termo que significa ‘corpos coloridos’ (do grego chroma = cor e soma = corpo). Os cromossomos, que variam em tamanho, forma e número em cada uma das diferentes espécies, são compostos essencialmente de DNA e proteínas associadas. Neles, portanto, está toda a informação genética que caracteriza e diferencia tanto as células e os tecidos quanto todos os seres vivos.
Essas informações são transmitidas pelos diferentes seres às novas gerações, que para crescer multiplicam suas células em um processo denominado mitose. Na mitose, uma célula-mãe, após duplicar toda a sua estrutura, inclusive os cromossomos, divide-se originando duas células-filhas idênticas a ela. Para que toda a informação genética seja transmitida com sucesso, os cromossomos devem ser cópias fiéis dos que estavam na célula-mãe.
O DNA existente em um cromossomo contém os genes, mensagens codificadas na forma de seqüências de nucleotídeos (‘tijolos’ básicos que compõem o material genético das células), onde estão as instruções para a formação de todas as células e tecidos do nosso corpo e para a síntese de proteínas (responsáveis por todos os processos biológicos), além de outras seqüências capazes de sintetizar ‘mensageiros’ que atuam na regulação de processos celulares e áreas que não carregam qualquer tipo de instrução, ou codificação.
Entre as estruturas que o DNA não-codificador forma nos cromossomos estão os centrômeros e os telômeros. Os centrômeros permitem a separação exata dos cromossomos duplicados durante a divisão celular que gera as células-filhas. Já os telômeros (do grego telos = fim e meros = parte), localizados nas ‘pontas’ dos cromossomos, funcionam como capas protetoras dessas extremidades, tendo papel muito importante na manutenção da integridade do genoma.
Eles impedem, por exemplo, a fusão de terminais de diferentes cromossomos e a degradação destes por enzimas que, na falta dos terminais, reconheceriam o material cromossômico como DNA danificado. Em nossos sapatos, quando os pedaços de fita adesiva que selam as pontas dos cadarços se desprendem, estes começam a desfiar, desmanchando-se. Em uma célula, ocorre o mesmo com os cromossomos que têm seus telômeros danificados: eles tendem a ser destruídos e, nesse processo, a célula morre.
Maria Isabel Nogueira Cano
Departamento de Genética, Instituto de Biociências,
Universidade Estadual Paulista (Botucatu).
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