O colesterol ruim (LDL) é ruim; o bom (HDL) é bom. Até agora, a cardiologia parece ter assumido essa máxima, na fórmula ‘baixar o vilão e subir o mocinho’. A (má) surpresa veio agora: aumentar o HDL não ajuda a prevenir doenças cardíacas. Parece que mais um dogma da medicina recebeu atestado de óbito.

Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), nos Estados Unidos, reuniram 3.414 pessoas com histórico de doenças cardíacas e níveis muito baixos de HDL. A média de idade era 64 anos. Todos tomaram estatina, a droga que baixa o LDL; parte deles tomou também niacina – que faz o bom colesterol subir – ou placebo (substância inócua).

O estudo era para durar seis anos, até 2012. Nem foi preciso. Antes disso, deu para saber que os pacientes que tomavam niacina não apresentavam benefícios em relação ao regime com estatina – ironicamente, o grupo que recebeu niacina teve elevado minimamente o risco de derrame.

Paradoxalmente, estudos com animais mostram que baixar o LDL e subir o HDL diminui os riscos de doença cardíaca

Os responsáveis pelo estudo dizem-se espantados com o resultado. Explica-se. Paradoxalmente, estudos com animais mostram que baixar o LDL e subir o HDL diminui os riscos de doença cardíaca. Assumir o mesmo para humanos, dizem especialistas, foi quase natural.

Muitos pacientes se disseram aliviados com o fim do estudo do NIH: a niacina costuma causar ondas de calor e dores de cabeça.

Risco de morte

Pequena nota na revista Science (03/6/11) e reportagem no jornal norte-americano New York Times (26/5/11) ressaltam que uma grande companhia farmacêutica, Pfizer, decidiu interromper, em 2006, testes com uma droga que elevava o HDL. Motivo: os pacientes apresentaram 60% mais chances de morrer quando comparados àqueles que só tomavam estatina.

Quem saiu mal na história foram os Laboratórios Abbott, fabricante da niacina usada no experimento. A empresa alegou em nota que o medicamento continua sendo agente importante para as pessoas com problemas de gordura no sangue.

A companhia farmacêutica gastou 32 milhões de dólares (cerca de R$ 52 milhões) para pagar parte do experimento – o NIH entrou com outros US$ 21 milhões. Segundo o New York Times, a esperança era elevar as vendas – ano passado, a niacina da Abbott chegou a quase 1 bilhão de dólares (cerca de R$ 1,6 bilhão) em vendas.

Um dos entrevistados pelo jornal resume bem a situação: “Temos fortes evidências de que baixar o LDL é benéfico […] Faltam, no entanto, boas evidências de que mudar o HDL e os triglicerídios [outro tipo de gordura no sangue] muda alguma coisa.”

A CH enviou ao NIH a seguinte questão: ainda vale a pena, então, praticar esportes aeróbicos para elevar o HDL? A resposta é de Patrice Desvigne-Nickens, responsável pelo setor do NIH que supervisiona o estudo.

“Sugerir que a prática de exercícios, que aumenta o HDL, pode não ser útil é uma conclusão errada”

“Sugerir que a prática de exercícios, que aumenta o HDL, pode não ser útil é uma conclusão errada. […] Assim como são sólidas as evidências de que diminuir o LDL com estatinas é benéfico [para a saúde], também são muito sólidas as evidências de que a prática esportiva é [igualmente] benéfica. Além disso, exercícios regulares trazem muito mais benefícios do que simplesmente aumentar o HDL.”

Certo, devemos continuar praticando exercícios aeróbicos.

Nosso fígado produz colesterol, substância gordurosa importante para produzir hormônios, por exemplo. Outra parte vem da comida. Algum colesterol é preciso para o bom funcionamento do organismo; no entanto, quando em alta quantidade, ele entope artérias e veias.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ

Texto originalmente publicado na CH 283 (julho de 2011).

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