Pombos são vistos como pragas urbanas: fazem sujeira e transmitem doenças. Mas, depois de ler esta nota, é possível que o leitor tenha outro olhar para esses pássaros. Razão (impressionante): eles podem raciocinar matematicamente. É a primeira vez que essa habilidade mental é encontrada em um não primata.
Em 1998, um estudo com macacos Rhesus fez época. Mostrou que esses animais podiam ordenar dois conjuntos, pondo aquele com menor número de elementos antes do segundo. Experimentos comprovaram essa capacidade em outros primatas.
De lá para cá, será que algum especialista da área chegou a pensar que pombos fariam o mesmo?
A equipe de Damian Scarf, da Universidade Otago (Nova Zelândia), treinou três pombos por um ano. A metodologia era mais ou menos essa: em uma tela, surgiam, na frente da ave, um retângulo amarelo, duas figuras ovais vermelhas e três barras também amarelas. Se os pombos bicassem as figuras em ordem crescente de elementos, ganhavam alimento. Ou seja, os animais aprenderam que o importante era a quantidade de figuras, não a forma ou a cor delas.
Finalizado o treino, veio nova etapa. Agora, na tela, surgiam, para os pombos, dois conjuntos de figuras (também com formas e cores distintas), mas, dessa vez, contendo de um a nove elementos e… os animais foram capazes de apontar a sequência ascendente para cada par.
Segundo Scarf, os resultados, publicados em dezembro de 2011 na Science, mostram que as escolhas dos pombos estão longe de serem meramente aleatórias.
Em resumo: os pombos sabiam ordenar os conjuntos.
A líder do estudo de 1998 com os macacos Rhesus, Elizabeth Brannon, da Universidade Duke (Estados Unidos), se mostrou surpresa com os resultados. Para ela, impressiona o fato de cérebros distantes milhões de anos na escala evolutiva terem resolvido o problema de modo semelhante.
Distinção em nome da clareza: vários animais, até mesmo insetos, são capazes de discriminar quantidades, mas não se mostraram, até agora, dotados da capacidade de raciocinar numericamente. Isso, por enquanto, parece ser mérito apenas de primatas e… pombos. E há pesquisadores da área que acreditam que habilidades até mais complexas estão presentes nos animais.
O leitor gosta de comportamento animal e lê em inglês? Então, fica a sugestão de artigo que faz bom apanhado dos últimos resultados nesse campo.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ
Texto originalmente publicado na CH 289 (janeiro/fevereiro de 2012).