Ciência patológica… segue firme e forte!

A ciência é baseada na experimentação, com a teoria desempenhando papel na produção de um quadro composto, consistente com o máximo de resultados possível. Novas ideias, experimentos e resultados são julgados com base no cenário aceito em dado momento.

É essencial, caso se queira que o entendimento de um assunto seja ampliado, que o cenário aceito seja desafiado de modo inovador e tantas vezes quanto possível. Está também claro que novas ideias – às vezes, parecendo inicialmente ir contra o cenário aceito – devam ser levadas à frente e consideradas por seus méritos.

Na década de 1950, Irving Langmuir cunhou o termo ciênciapatológica para “a ciência de coisas que não são bem assim”

Na prática, porém, a ciência tem que enfrentar o problema de como lidar com ideias dissidentes e com o desafio de separar especulações e afirmações incoerentes – que aqui denomino ‘dragões’, criatura mítica, atrativa, mas perigosa – de outras que, apesar de posteriormente se mostrarem corretas, sejam inicialmente difíceis de justificar de modo claro.

Na década de 1950, o norte-americano Irving Langmuir (1881-1957), prêmio Nobel de Química de 1932, fez palestra memorável em que cunhou o termo ciência patológica para “a ciência de coisas que não são bem assim”. Ele considerou vários exemplos dessas ideias e estabeleceu ‘regras’ por meio das quais essas especulações ganham apoio, por curto período de tempo, antes de serem postas de lado.

Ciência patológica
‘Dragões’, criaturas míticas atrativas porém perigosas, aqui denominam as teorias científicas erradas que conseguem conquistar adeptos antes de serem desmentidas (arte: Lula).

Raios N

O exemplo mais antigo de ciência patológica dado por Langmuir foi o do fenômeno dos raios N, ‘descobertos’ pelo físico francês René Blondlot (1849-1930), em 1903. Esses raios eram emitidos por certos corpos e, em um quarto escuro, podiam aumentar levemente a visibilidade de objetos, como uma folha de papel em branco, postos perto do emissor.

Um gerador de raios N era um tubo de ferro, contendo um fio aquecido, com uma abertura, coberta por uma camada bem espessa de alumínio, opaca à luz.

Muitos artigos foram publicados sobre o tema no primeiro ano depois da descoberta, alguns corroborando o fenômeno; outros discordavam da existência dele. Foi um período de grande atividade na física, com intensa pesquisa sobre radioatividade e raios X.

Pouco depois do anúncio dos raios N, o físico norte-americano Robert Wood (1868-1955) foi escolhido por um grupo europeu para visitar o laboratório de Blondlot. Lá, mostraram a ele o equipamento no qual os raios N estavam sendo estudados. Entre os aparelhos, estava um espectrômetro dotado de um grande prisma de alumínio. 

Quando Wood contou o que havia feito, os raios N sofreram morte súbita

Uma questão preocupava Wood: a alegada precisão [do experimento] não parecia consistente com os tamanhos de certas aberturas pelas quais passava o suposto feixe, bem como com a largura deste último.

Para esses questionamentos, a resposta da equipe de Blondlot era: “Sim, eles não obedecem a regras normais, e isso é o que é interessante neles”.

Depois de uma demonstração ter sido finalizada, Wood perguntou – como se estivesse elocubrando algo – se alguns dos resultados poderiam ser repetidos. A sala foi escurecida, e logo que o experimento recomeçou, Wood removeu o prisma do equipamento, sem que ninguém notasse.

O experimento mostrou, mesmo sem o prisma, resultados similares. Quando Wood contou o que havia feito, os raios N sofreram morte súbita.

Você leu apenas o início do artigo publicado na CH 272. Clique no ícone a seguir para baixar a versão integral, que traz outros exemplos de deslizes da ciência e as ideias de Langmuir sobre como essas teorias se formulavam. PDF aberto (gif)

Nick Stone
Universidade de Oxford (Reino Unido) e
Laboratório Nacional Oak Ridge (Estados Unidos)

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