O cacauê ( Aratinga pintoi ) recém-descoberto (no alto) foi confundido por quase 100 anos com um imaturo da jandaia-sol ( Aratinga solstitialis ) (abaixo). Crédito: Eduardo Brettas.
Por quase um século, a ave foi confundida com um imaturo da jandaia-sol ( A. solstitialis ), ou ainda com um híbrido da A. solstitialis com a A. jandaya . “Percebemos que se tratava de uma nova espécie quando descobrimos exemplares idênticos em vários museus do mundo e ao observarmos grupos cuja plumagem era similar àquelas presentes em coleções científicas. Foi importante também descobrir um casal nidificando (fazendo ninho)”, afirma o biólogo Luís Fábio Silveira, do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP). Em 2003, o biólogo viajou para Monte Alegre e conheceu regiões onde é comum encontrar essas aves. Durante três dias, ele analisou seus aspectos biológicos e capturou cinco exemplares — hoje no Museu de Zoologia da USP — para estudos posteriores.
Segundo Silveira, A.pintoi tem uma população pequena e vive em uma área restrita. No Brasil, aves como papagaios e periquitos são as mais procuradas por colecionadores, que ficam atentos à divulgação de novas espécies. As características da A.pintoi preocupam o biólogo, uma vez que podem motivar uma captura intensa por parte de traficantes de aves silvestres. Ele sugere que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estabeleça planos de ação capazes de conter o tráfico na região e assim evitar sua extinção.
O cacaué vive em áreas de vegetação aberta, no meio da floresta amazônica. É comum identificá-lo em grupos de até 10 aves. Alimenta-se de frutas e sementes e sua vocalização é marcada por sons agudos, estridentes e repetitivos.
O artigo relatando a identificação da nova espécie – assinado por Silveira e por mais dois pesquisadores da USP, Flávio César Thadeo de Lima e Elizabeth Höfling – foi publicado na revista especializada norte-americana The Auk .
De olho em gaviões e corujas
Especialistas em aves de rapina estudam a possibilidade de indicar algumas espécies de gaviões e corujas para a lista oficial brasileira dos animais ameaçados de extinção. Em reuniões específicas – uma realizada este ano e outra a ser feita no ano que vem -, 20 estudiosos de várias regiões do país apresentarão documentos contendo dados científicos, como aspectos biológicos, tamanho populacional e hábitat das espécies, para discutir a necessidade de inclusão desses animais na lista, baseando-se nos critérios estabelecidos pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), responsável pela Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas em todo o mundo.
“Os biólogos que participam desse grupo de estudo vêm trabalhando em áreas da Amazônia, de mata atlântica e cerrado com aves livres ou em cativeiro“, afirma o ornitólogo Carlos Bianchi, um dos coordenadores do grupo. “Certas espécies sofrem muito com a degradação de seu hábitat, como a Glaucidium mooreorum , conhecida como caburé-de-pernambuco. Hoje encontramos menos de 5% da flora original da mata atlântica”, lamenta. Segundo Bianchi, como o caburé é uma espécie recém-descoberta, pouco se sabe sobre ela, sendo necessário incluí-la na lista.
Das cerca de 90 espécies de aves de rapina espalhadas pelo Brasil, 23 podem aparentemente estar em perigo. Na opinião de Bianchi, esse documento servirá como um banco de dados das espécies consideradas fundamentais para o equilíbrio ecológico. Com base nesse estudo, os biólogos irão propor a inclusão de tais aves ao Grupo de Trabalho do Ministério do Meio Ambiente, responsável pela elaboração da lista oficial dos animais ameaçados de extinção.
Mário Cesar Filho,
Ciência Hoje/RJ.