LED é a sigla inglesa para designar diodos emissores de luz. São aquelas lampadazinhas (em geral, vermelhas) encontradas em muitos aparelhos eletrônicos. Se comparados com as ‘primas’ incandescentes, os LEDs (incluindo a versão branca de Nakamura) duram 100 vezes mais, são menores, emitem mais luz, gastam menos energia, esquentam bem menos, não empregam vidro, filamento ou mercúrio, não têm partes móveis. Estima-se que em 10 anos (quando os preços serão mais acessíveis), os LEDs brancos invadirão os lares do planeta. E passarão a levar luz a locais sem eletricidade, pois funcionam com baterias solares.
Reinventar a lâmpada pode ainda não ter dado um Nobel a Nakamura, mas vai render a ele, em setembro próximo, um cheque de 1 milhão de euros (R$ 2,8 milhões) do Prêmio de Tecnologia do Milênio, uma versão finlandesa, tecnológica, bienal (e mais polpuda) do prêmio sueco. Certamente, a honraria mais prestigiosa, até o momento, no currículo de Nakamura.
Nascido em 1954, esse engenheiro japonês formado pela Universidade de Tokushima começou sua carreira em uma pequena empresa química no interior do Japão. Foi de lá que, no início da década de 1990, passou a surpreender especialistas da área, depois de apresentar ao mundo os LEDs branco, azul e verde, bem como o laser azul. Desde 2000, é professor catedrático na conceituada Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, cujo lema é, ironicamente, Fiat lux (algo como ‘Que se faça a luz’). Do Japão, Nakamura concedeu esta entrevista à Ciência Hoje .
No próximo dia 8 de setembro, em uma cerimônia em Helsinque, depois de receber o cheque de 1 milhão de euros, o senhor se tornará milionário, literalmente. Como o senhor acha que essa significativa quantia do Prêmio de Tecnologia do Milênio, concedido a cada dois anos [o ganhador de 2004 foi o físico inglês Tim Berners-Lee, pela invenção da WWW], irá mudar sua vida?
Metade do prêmio irá para o pagamento de impostos. Portanto, a quantia, no final das contas, será menor que um milhão. Posto de modo simples, esse dinheiro não afetará meu cotidiano.
O senhor disse, em uma entrevista, que pretende doar parte do prêmio para instituições e universidades cuja linha de pesquisa seja voltada à disseminação da iluminação no mundo, principalmente no Terceiro Mundo. Por quê?
Um terço da população do planeta não tem nem eletricidade, nem iluminação. No entanto, com os LEDs brancos que inventei, a iluminação poderia chegar até eles. Em muitas regiões dos países em desenvolvimento, não há iluminação à noite. Os LEDs brancos, ligados a pequenas baterias alimentadas por células solares, poderiam ser usados como fontes de luz nesses lugares.
O que o senhor pretende fazer com o resto do dinheiro do prêmio?
Neste momento, não tenho a menor idéia.
Em termos de economia de energia, o senhor poderia nos dar uma idéia sobre as principais diferenças entre um LED branco e uma lâmpada incandescente? Em comparação com esta última, quanto tempo a mais duraria um LED branco?
A eficiência de um LED branco é cerca de 10 vezes mais alta que a de uma lâmpada incandescente convencional. Portanto, podemos dizer que, caso a fonte de alimentação seja a mesma, um LED branco poderia funcionar por um período 10 vezes maior.
Seria possível calcular quanta energia seria economizada, por exemplo, nos Estados Unidos, caso ocorra a substituição das lâmpadas incandescentes e fluorescentes por lâmpadas de estado sólido, ou seja, LEDs?
A iluminação com LED branco poderia ser empregada para diminuir o consumo de energia, bem como para poupar recursos [energéticos]. Só nos Estados Unidos, calcula-se que, por volta de 2025, a iluminação à base de LED branco já teria economizado algo equivalente à energia produzida por 133 usinas. Em outras palavras, 133 usinas poderiam deixar de ser construídas. O Departamento de Energia estima que, também por volta de 2025, até US$ 98 bilhões [cerca de R$ 215 bilhões] em recursos energéticos tenham sido poupados, caso a iluminação seja feita por LEDs. Essa troca também reduziria a emissão de gases do efeito estufa e, conseqüentemente, reduziria drasticamente os efeitos do aquecimento global. Isso ajudaria todos os países a reduzir suas emissões, em acordo com o Protocolo de Kyoto.
Entrevista concedida a
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/RJ