Artigo traz alerta para pais e médicos: as doses de radiação da tomografia computadorizada podem aumentar consideravelmente os riscos de câncer em crianças com menos de 15 anos de idade.
O diagnóstico por imagem foi, sem dúvida, grande avanço da medicina – as primeiras chapas de raios X, feitas no final do século 19, causaram sensação. A tomografia também usa esse tipo de radiação, que é danosa às células.
A rapidez, a não necessidade de sedação e a precisão – e, claro, a comodidade – dos diagnósticos por imagem parecem ter efeito colateral sobre os médicos: certa acomodação. Aquele exame clínico geral, detalhado, demorado, em que se apalpa, observa, pergunta, mede, ausculta, pesa etc. está bem enfraquecido nestes dias – planos de saúde que exigem consultas de 20 minutos não ajudam nesse sentido.
Mas a norma parece ser pedir a tomografia ou chapa de raios X, para depois ver se há algo de errado com o paciente – e, hoje, a quantidade de resultados negativos é impressionante. Crianças com sinusite ou gripe, por exemplo, acabam submetidas a doses desnecessárias de radiação na face ou no tórax.
Some-se, ao cenário descrito acima, outro fato: a esmagadora maioria dos médicos e dos dentistas que prescrevem ou realizam exames envolvendo radiação ionizante não tem boas noções – sim, é um eufemismo – sobre os efeitos da radiação no corpo humano.
Água, sabão e…
Depois dessa (necessária) digressão… Agora, pesquisadores britânicos, canadenses e norte-americanos, depois de avaliarem dados de 178.604 pacientes, submetidos a tomografia entre 1985 e 2002, conseguiram quantificar – segundo eles, pela primeira vez – o risco de câncer em crianças causado por essas doses de radiação.
E as conclusões são, no mínimo, preocupantes: para crianças até 15 anos, as doses de radiação de duas a três tomografias na região da cabeça podem triplicar os riscos de câncer de cérebro. E as de cinco a 10 tomografias podem triplicar os riscos de leucemia. [Adendo técnico: para quem é da área e está curioso sobre quais as doses a que os autores se referem, elas são cerca de 60 miligray e 50 miligray, para os casos de câncer de cérebro e leucemia, respectivamente.]
A diferença no número de tomografias para esses dois tipos de câncer está relacionada, dizem os autores, ao quanto de radiação a cabeça e a medula óssea absorvem nesses procedimentos, bem como à idade do paciente.
Certo, não é o caso de evitar, a todo custo, que um filho ou filha sejam submetidos ao exame, cujas doses – é preciso dizer – são atualmente bem baixas e consideradas seguras. Além disso, ser submetido a uma tomografia não significa desenvolver câncer: tudo é questão de probabilidade. E o exame, em alguns casos, é para lá de necessário, seja para o diagnóstico ou mesmo para salvar a vida do paciente. É questão de ponderar custos e benefícios.
O alerta dos autores é um sermão surrado: sempre que possível, baixar doses e – mais importante – optar por alternativas não radioativas. Há muito tempo, um médico disse que grande parte dos problemas de saúde se resolveria com receita simples: água, sabão e bom-senso. No caso de exames que envolvem raios X, bastaria este último ingrediente.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ
Texto originalmente publicado na CH 294 (julho de 2012).