Alguns tipos de incongruência lingüística fazem o interlocutor levar um ‘susto’, que provoca aumento da atividade elétrica no cérebro (ilustrações: Mario Bag)
O que acontece no cérebro quando falamos? Nas últimas décadas, pesquisas sobre os mecanismos neurofisiológicos responsáveis pela aquisição e uso da linguagem vêm sendo realizadas em vários países e já se mostram como uma das áreas mais produtivas da neurociência. Registros da atividade bioelétrica no córtex e dos padrões do fluxo sangüíneo no interior do cérebro, aferidos por técnicas como a eletroencefalografia, a ressonância magnética funcional e outras, permitem identificar o modo e a localização da ativação cerebral enquanto ouvimos e produzimos a linguagem. No Brasil, os estudos nessa área altamente interdisciplinar estão começando agora, e os primeiros resultados confirmam descobertas já clássicas da neurolingüística e apontam rumos para a investigação de outros aspectos da faculdade da linguagem ainda não testados por essas técnicas.
Esse processo de ativação múltipla acontece porque a palavra-alvo sempre se relaciona a múltiplos aspectos dos conteúdos mentais. As representações do som de uma palavra (fonologia), do seu significado (semântica) e dos pedaços que a formam (morfologia) entram em jogo nesse processo. Por exemplo, ouvir a palavra ‘banana’ ativa representações mentais de palavras como ‘batata’ e ‘nana’, por semelhança de som com a palavra ouvida. Mas também pode ativar ‘manga’ e ‘maçã’, por serem do mesmo campo semântico, e ‘bananada’ e ‘embananada’, por pertencerem à família de palavras formadas a partir da mesma raiz ‘banan’. E ativa também, é claro, a representação da palavra-alvo, ‘banana’, que acaba por ganhar a competição entre todas as representações de outras palavras relacionadas. E nós nem nos damos conta de que entender as palavras envolve tudo isso.
Aniela Improta França
Projeto Concatenações Lingüísticas: Psicolingüística e Neurofisiologia (Clipsen),
Departamento de Lingüística, Universidade Federal do Rio de Janeiro