Floresta atlântica nordestina: fragmentação, degeneração e perda de biodiversidade

 

A Usina Serra Grande, em Alagoas, exibe a paisagem típica da Zona da Mata nordestina, na qual as áreas remanescentes de floresta atlântica apresentam-se como fragmentos (ou ‘ilhas’ de floresta) imersos em uma matriz de cana-de-açúcar, formando os ‘arquipélagos florestais’ (foto: Adriano Gambarini).

A rápida expansão das atividades humanas impõe o desafio de entender como tais ações afetam os ambientes naturais e a biodiversidade. Este artigo aborda os efeitos da perda e da fragmentação de hábitats em florestas tropicais, com ênfase nos resultados de quase uma década de estudos em uma paisagem originalmente de mata atlântica e hoje dominada pela cana-de-açúcar, no Nordeste.

Além de reforçar a noção de que a fragmentação empobrece drasticamente a flora e a fauna originais e altera as interações entre plantas e animais, esses resultados indicam que ela induz um amplo processo de degeneração florestal, comprometendo seriamente os ‘serviços’ prestados pelas florestas, entre eles o sequestro de carbono, a produção de água e a conservação da biodiversidade.

Para enfrentar essa situação é preciso que diversos setores da sociedade se articulem com o objetivo comum de proteger a floresta e transformá-la em uma oportunidade para o desenvolvimento sustentável do país.

‘Arquipélagos’ de fragmentos
A destruição e a fragmentação dos ambientes naturais são as maiores ameaças à integridade e à diversidade biológica das florestas tropicais. Nas próximas décadas, mesmo os trechos mais remotos e preservados dessas florestas poderão ser convertidos em ‘arquipélagos’ de fragmentos florestais, devido ao rápido crescimento e à dispersão geográfica de populações humanas nos principais países tropicais.

Esse processo, diretamente associado à expansão da chamada fronteira agrícola, tende a deixar as áreas de floresta remanescentes – protegidas em unidades de conservação ou não – imersas em paisagens dominadas por pastagens, plantações e áreas urbanas.

O destino de grande parte da biodiversidade das florestas tropicais, portanto, dependerá da capacidade dessas paisagens produzidas por ações humanas – os agromosaicos – de conservar plantas e animais, o que é chamado de ‘serviços de conservação’. Esse é o caso típico da floresta atlântica brasileira, atualmente reduzida a pequenas ‘ilhas’ de floresta em grande parte de sua área de distribuição original.

Manter e ampliar os serviços de conservação da biodiversidade nessas paisagens alteradas impõe o desafio de entender como a perda e a fragmentação de hábitats altera a flora e a fauna originais das florestas tropicais.

Felizmente, nas últimas duas décadas, a pesquisa sobre fragmentação florestal permitiu detectar alguns padrões gerais: (1) a perda e a fragmentação de hábitats atuam ao mesmo tempo e em sinergia com outras formas de perturbação humana, como o corte de madeira, o fogo e a caça; e (2) as mudanças (em geral rápidas e profundas) causadas na floresta pela fragmentação resultam, principalmente, da criação de bordas florestais, da ruptura de interações biológicas, da subdivisão e do isolamento das populações de plantas e animais e da proliferação de espécies invasoras.

Marcelo Tabarelli e Severino Ribeiro Pinto
Laboratório de Ecologia Vegetal,
Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco
Inara Roberta Leal
Laboratório de Interação Planta-Animal,
Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco 

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