Manguezais: as florestas da Amazônia costeira



Manguezal às margens do lago Jaburu, no rio Sucurijú, no Amapá (fotos cedidas pelos autores).

Os manguezais da costa amazônica, distribuídos por Amapá, Pará e Maranhão, ocupam uma área de 9 mil km 2 e correspondem a 70% dos manguezais do Brasil. Os 679 km de linha de costa entre os estados do Pará e do Maranhão formam o maior cinturão contínuo de manguezais do mundo. Essas florestas de mangue com árvores de grande porte, situadas no litoral atlântico e recortadas por rios e canais de águas escuras e tranquilas, são o refúgio de diversas espécies de crustáceos, peixes, moluscos e aves marinhas. Os mangues amazônicos, porém, ainda são desconhecidos pela maioria dos brasileiros.

Os manguezais, que ocorrem em todas as regiões costeiras tropicais e subtropicais do mundo, caracterizam-se pelo sedimento lamacento e salino, inundado diariamente pela maré. Sobre esse sedimento formam-se bosques de árvores que apresentam adaptações para sobreviver à salinidade e à inundação. Essas florestas peculiares têm grande importância ecológica porque são áreas de reprodução e atuam como berçários para várias espécies marinhas, em especial crustáceos e peixes, que encontram nas águas tranquilas e escuras o refúgio ideal para suas larvas e filhotes.

As folhas das árvores do mangue que caem no sedimento são trituradas pelos pequenos caranguejos, entram em decomposição e são levadas pelas marés, servindo de alimento para pequenos organismos marinhos. Estes são consumidos por animais maiores, que por sua vez alimentam outros ainda maiores, os quais entram na dieta dos grandes peixes, pescados e são consumidos pelos humanos. Essa sequência é chamada de cadeia alimentar. Os mangues, portanto, formam a base da cadeia alimentar marinha. As águas próximas aos manguezais são muito ricas em matéria orgânica, e é por isso que nessas águas os pescadores encontram grandes quantidades de peixes, crustáceos e moluscos.

Os mangues também são áreas de reprodução e descanso para aves costeiras e locais de depósito de sedimentos, e protegem a linha de costa, atenuando o impacto da erosão. Essa capacidade de proteção foi bastante destacada nos meios de comunicação internacionais após o tsunami que, no final de 2004, causou grande destruição e cerca de 150 mil mortes em países banhados pelo oceano Índico. Em muitos desses países, grandes áreas de manguezais tinham sido eliminadas devido ao crescimento de cidades e para a implantação de praias e projetos de aquicultura. Estudos científicos provaram que, se os manguezais ainda existissem na costa, teriam absorvido parte do impacto das ondas gigantes e provavelmente diminuído a dimensão da tragédia.

Manguezais na Amazônia

Os manguezais amazônicos servem como refúgio para muitas espécies de aves, entre elas os guarás (Eudocimus ruber) (A) e garças (como as da espécie Ardea alba) (B), estas em revoada em área de grande ninhal na ilha Canela, no Pará.

Os manguezais amazônicos formam verdadeiras florestas, com relatos de árvores de até 30 m de altura e 1 m de diâmetro. O grande porte dessas árvores provavelmente resulta das temperaturas tropicais, da grande amplitude de marés e da costa muito recortada, com ondas suaves, condições consideradas ideais para o desenvolvimento desse ecossistema. Dependendo da influência das marés e da localização dos mangues no estuário, estes podem ser salinos ou salobros (com pouca influência de água salina).

Apesar do tamanho das árvores e da exuberância dos manguezais, existem apenas seis espécies de árvores consideradas exclusivas de mangue, ou seja, dominantes nesse ambiente. Essas espécies pertencem a apenas três gêneros: Rhizophora, Avicennia e Laguncularia. Também são ocasionalmente encontradas no mangue algumas espécies associadas, como o chamado mangue-de-botão (Conocarpus erecta), bastante comum nas áreas de transição com outros tipos de vegetação, e a samambaia-do-mangue (Acrostichum aureum), presente em mangues salobros.

Muitas aves frequentam os mangues amazônicos, mas merecem destaque a garça (Ardea alba), o guará (Eudocimus ruber), com sua plumagem de um vermelho intenso, quando adulto, e diversas espécies de maçaricos. As aves procuram o mangue para reprodução, chegando a formar grandes ninhais, ou para encontrar alimento. Mamíferos também visitam o mangue em busca de alimento, destacando-se o guaxinim (Procyon cancrivorus), o tamanduá (Tamandua tetradactyla), o macaco-prego (Cebus apella), cuícas e morcegos. Diversos peixes, crustáceos e moluscos também cumprem ao menos parte de seu ciclo de vida nos mangues.

Moirah Paula Machado de Menezes
e Ulf Mehlig

Instituto de Estudos Costeiros,
Universidade Federal do Pará (campus de Bragança)

 

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