Doenças como sapinho e candidíase, causadas pelo fungo Candida albicans, poderão, no futuro, ter tratamento mais eficaz, graças a um novo tipo de antibiótico descoberto em ovos da aranha-armadeira (Phoneutria nigriventer). Os méritos cabem ao estudante paulista Ivan Lavander Ferreira, de 18 anos. A descoberta lhe valeu um prêmio na maior feira escolar de ciências do mundo, realizada em maio passado nos Estados Unidos.
Tudo começou em casa, onde Ferreira criava opiliões (parentes inofensivos das aranhas). “Notei que, por alguma razão, os ovos desses aracnídeos não apodreciam quando deixados ao ar livre.” O estudante supôs então que deveria haver alguma substância que os protegia de fungos e bactérias. Inquieto, o garoto do terceiro ano do ensino médio bateu à porta do Instituto Butantan (SP), onde conheceu o biólogo Pedro Ismael da Silva Junior. O veterano sugeriu ao novato que deixasse os opiliões de lado e prosseguisse a pesquisa com aranhas-armadeiras. “Foi o que fiz.”
Durante quase um ano, Ferreira frequentou o Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan, para estudar os ovos da aranha, que também não se degradam ao ar livre. “Conseguimos isolar quatro moléculas: duas lisozimas [que agem contra fungos e bactérias] e dois peptídeos [substâncias de baixo peso molecular que podem atuar mais rapidamente que os antibióticos atuais]”, contou o jovem pesquisador. Estudando essas moléculas, ele descobriu um novo modo de ação contra a Candida albicans e também contra a bactéria Microccocus luteus, não patogênica.
Por um processo natural, os micróbios com que convivemos estão cada vez mais resistentes aos antibióticos convencionais. “Por isso é importante estudarmos essas novas moléculas; um dia elas poderão se tornar antibióticos mais eficientes no tratamento de doenças infecciosas”, explica o estudante.
O próximo passo de Ferreira é tentar sintetizar em laboratório as substâncias que identificou nos ovos da aranha (mas antes, claro, pretende estudar para entrar na faculdade de biologia). Para ele, não é apenas o mérito científico de seu estudo que o deixa otimista. “É importante lembrar que vivenciei uma situação rara no Brasil. Foi uma das poucas vezes que um instituto de pesquisa abriu suas portas para um estudante do ensino médio”, diz. “Isso é muito comum em outros países, e espero que aconteça mais vezes por aqui também.”
Henrique Kugler
Especial para Ciência Hoje/PR