Reconstituição do mastodonote e fóssil da pata do animal encontrado em Bonito (MS)
O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro inaugurou em outubro uma exposição voltada para o público infantil que tem como carro-chefe a descoberta de fósseis de mastodonte ( Stegomastodon waringi ) em agosto do ano passado na Serra da Bodoquena, em Bonito (MS). Já extintos, os mastodontes eram primos distantes dos elefantes atuais, tinham presas mais alongadas e a cabeça mais achatada e comprida do que as de seus similares contemporâneos.
Os fósseis, encontrados na caverna alagada da nascente do rio Formoso, foram por muito tempo confundidos com ossos de gado. As expedições de 2003 serviram para descartar essa hipótese e trazer parte do material encontrado para análise no Rio de Janeiro. O trabalho foi feito pelo grupo Encontro de Gigantes da Pré-história do Brasil Central (EGBC), um projeto apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e desenvolvido por paleontólogos de várias instituições brasileiras. Assim que novos recursos sejam liberados, os pesquisadores voltarão a Bonito para trazer o restante dos fósseis.
Ainda que seja freqüente a descoberta de fósseis de mastodontes na América, as expedições de Bonito permitiram recolher algumas estruturas ósseas raras e outras jamais encontradas. Além disso, esse é o mais antigo fóssil da espécie achado no Brasil, datado de 10 mil anos atrás. Nas cavernas de Bonito, o Projeto EGBC já resgatou fósseis de tigres-dente-de-sabre, preguiças e tatus gigantes, entre outros.
Mergulhadores resgatam fósseis na nascente do rio Formoso (fotos: Ismael Escote)
De acordo com o coordenador do trabalho, o paleontólogo Leandro Salles, do Museu Nacional, as pesquisas realizadas com os fósseis seguirão dois caminhos distintos. Um deles é um estudo técnico que pretende ajudar na reconstituição da aparência do animal e na investigação de sua estrutura evolutiva. O mastodonte é hoje um dos representantes da megafauna menos conhecidos pelos paleontólogos. No Brasil, os esqueletos mais completos desses animais estão na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais.
A outra linha que os pesquisadores pretendem seguir é a da divulgação didática dos resultados do trabalho. A exposição no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, que deve durar cerca de três meses, faz parte desse plano. O objetivo da mostra é apresentar à sociedade esse patrimônio desconhecido – os fósseis serão expostos ao lado de reconstituições do animal em escala reduzida. Serão exibidos também vídeos documentais sobre as expedições e maquetes das cavernas onde foram encontrados os fósseis.
A mostra teve ainda uma programação especial para a semana da criança e para a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia. “Junto com a exposição, pretendemos lançar uma história em quadrinhos sobre as expedições na Serra da Bodoquena. É uma forma de tornar nossos achados mais acessíveis e educativos”, diz Salles.
O EGBC trabalha ainda na produção de um documentário sobre as expedições de Bonito. O grupo de pesquisadores está planejando também um livro fotográfico, um CD-Rom e uma exposição itinerante pelos principais museus de história natural do país, a serem lançados em 2005.
Tiago Carvalho
Ciência Hoje/RJ